27 de fevereiro de 2009

O Lutador


Em suma, o filme conta a história de Randy, o Carneiro, um lutador que fez sucesso nos anos 80 e agora faz competições de luta livre. A partir daí, em franca decadência, ele tem que lutar pelos amores da filha e de uma stripper. É um filme que mostra os bastidores das lutas como elas realmente são: arranjadas e combinadas. Mas o que me chocou, definitivamente, foi o “depois” de Mickey Rourke. Pára o mundo: o que fizeram com aquele rostinho maravilhoso de 9 ½ semanas de amor? Gente, meu mundo simplesmente caiu. Rourke agora está um monstro. Eu sei que meio mundo já teceu inúmeros comentários sobre este assunto, mas vamos combinar, fiquei tão impressionada com a questão que acho que até parei de prestar atenção nas ironias do filme, divisão dos atos, tensão principal ou quer seja na história do filme... Bem, não vá achando que é um excelente filme para se ver, não o é. Mas por curiosidade, e principalmente quem foi fã daquele homem lindo nos anos 80, não pode deixar de ir assistir este longa. Nem que seja pra discordar de tudo o que eu disse aqui...

Os Incompreendidos



Em francês este clássico da Nouvelle Vague de François Truffaut chama-se Les quatre cents coups. Literalmente, o título do filme é uma gíria francesa que traduzindo seria algo do tipo “aprontando todas” ou ainda “pintando os sete”. O mais engraçado que é exatamente isso que o personagem de “Os Incompreendidos” faz: um adolescente cansado do autoritarismo dos pais e da escola que busca refúgio nos livros, nas amizades e, óbvio, cometendo pequenos delitos. O filme é uma espécie de alter-ego de Truffaut já que na sua infância ele chegou a ser delinqüente, apesar de não admitir. As coincidências não param por aí, o garoto, Jean-Pierre Léaud, que atuou como personagem principal também foi expulso várias vezes da escola quando tinha por volta de 13 anos. Eita povinho rebelde, hein...


O filme era para ser um curtametragem chamado “A fuga de Antonie”, mas deu tão certo que acabou virando este longa. O orçamento, naquela época, não foi gasto mais do que 90 mil dólares. Dá pra alguém avisar isso aos caras lá de Hollywood?! É óbvio que um longametragem no mesmo compasso do que seria a Nouvelle Vague: “um movimento de juventude, protagonizado por uma geração que começou a escrever e a fazer filmes adolescentes, com a irresponsabilidade política dos ‘vinte e poucos anos’, mas com um raro acúmulo cultural para jovens dessa idade (Antoine de Baecque)”. Mas e daí, o filme é muito bom. Vale à pena assisti-lo e ponto final.

25 de fevereiro de 2009

Capítulo 5

O sol beirava aos quase trinta graus, mas na efervescência do calor parecia bem mais. As ruas coloridas de uma multidão tão alegre e vibrante que fazia qualquer múmia querer sair da tumba para dançar. Era carnaval. Sofia, Kai, Manuela e Heitor subiam uma, das inúmeras ladeiras de Olinda, ladeados de um grupo todo sujo de barro. O batuque do grupo era gostoso. Sofia, Kai e Manuela tinham um trato fazia cinco anos: no carnaval viajariam juntos, conhecendo algum lugar do Brasil que nenhum deles já tivesse conhecido. Não necessariamente eles teriam que ir para alguma bagunça carnavalesca, propriamente dita, mas aquele ano, eles decidiram, por sugestão de Kai assimilarem um pouco do carnaval regado a muito frevo. Heitor era um intruso no primeiro carnaval que passou com os amigos de Manuela, mas, devido às circunstâncias, foi promovido a “o agregado” do grupo.

Um pouco mais acima já quase no final da ladeira, Sofia avistou um homem com a fantasia de babá empurrando um carrinho de bebê. O charme da fantasia dele era o tamanho dos peitos, enormes. Sofia pegou Kaí no braço e correu para tirar uma foto com o folião. Subiram mais um pouquinho e avistaram um grupo que se preparava para fazer uma coreografia. Decidiram pegar mais uma cerveja e esperar o que iria acontecer. O grupo estava vestido de roupas de banho imitando as ginastas olímpicas. Um deles tinha um barrigão, era a ironia da coisa, onde uma ginasta iria ter um corpo daqueles, só no carnaval mesmo. De repente uma lycra enorme imitando a cor da água da piscina tomou conta de toda a rua. O tecido tinha alguns buracos. Os foliões vestidos de ginastas se posicionaram dentro destes buracos enquanto que outros foliões seguravam a lycra nas beiradas e balançavam-na para dar a sensação de que o pano era a água da piscina se movendo com o movimento deles. A banda começou a tocar e lá foram as ginastas fazendo a coreografia sincronizada e andando pela rua. Era hilária aquela apresentação. Kai bateu foto de toda a turma e de tudo quando era jeito.

Na multidão, tinha criança fantasiada, grupo de jovens folionas dançando frevo. Heitor avistou os bonecos de Olinda e chamou todos para irem ver. Sofia teve a impressão de que um cara estava paquerando-a. Não é só impressão mesmo, mas vá ser gato lá em casa hein. O cara não era nem tão gato assim, mas quando se bebe muito existe uma tendência das pessoas acharem as outras verdadeiras princesas ou príncipes. Os bonecos eram gigantes e tinham outros menores perto que eram conduzidos por crianças. Manuela chegou com mais cerveja para o grupo. Bebendo desse jeito eu vou dar pro primeiro que passar. E Sofia gargalhou com o que dissera. Os amigos ouviram alguém na rua dizer que a “Liga da Justiça” estava descendo a ladeira de uma rua paralela a que se encontravam. Vamos! A Liga da Justiça eram foliões, vestidos de super-heróis que se encontravam meio dia em um determinado local de Olinda e saiam depois pelas ruas numa animação de dar gosto. Enquanto andavam se depararam com outro grupo que ficavam em cima da calçada dando nota às moças que passavam pela rua. Eram uns seis ou sete rapazes. Eles ficavam em cima de banquinhos com placas na mão. As placas tinham notas e, algumas, adjetivos dos mais diversos. Quando passava uma mulher bonita, os foliões de cima das cadeiras levantavam as placas com as notas e o adjetivo: 3 – 2 – 5 – 4 – 10 – Baranga! Os rapazes que tinha dado as notas mais baixas desciam dos banquinhos e fingiam bater no folião que tinha levantado a placa “10”. Já as mais gordinhas, idosas ou feinhas recebiam outro tratamento: 9 – 8 – 8 – 10 – 1 – Gostosa pra caralho! E então, o mesmo rapaz que tinha dado a nota inferior apanhava dos demais companheiros. Sofia logo quis passar na frente dos jurados e saiu de lá com um “Bozenga” em seu currículo. Amei isso! Sofia tentou convencer Manuela de passar na frente deles, mas ela era muito tímida pra este tipo de exposição. Sofia olhou de relance e percebeu que o mesmo cara estava olhando para ela. Agora não é invenção minha, das duas uma: ou ele está me seguindo mesmo, ou eu estou ficando paranóica. Kai percebeu que o moço paquerava Sofia e então a abraçou. Porra Kai, você está de sacanagem comigo?! Kai deu risada e fingiu não entender a amiga. Vamos a gente vai perder de ver a “Liga da Justiça”! Sofia irritada empurrou Kai e sem cerimônia alguma disse: “Pois agora eu é que quero ver a Liga do Caralho”. Manuela e Heitor se acabaram de rir. Kai também rindo, foi pegar mais cerveja, adorava quando Sofia perdia as estribeiras.

Um bloco grande, com um batuque pra lá de indeciso, descia a rua e ia espremendo as pessoas para as calçadas. As pessoas para acompanharem tal bloco formavam filas e seguiam-no. Na verdade eles eram muito mais empurrados por uma multidão do que propriamente acompanhavam por livre e espontânea vontade. Os amigos formaram uma fila, Manuela quase ia à frente quando se lembrou o que Sofia fez com ela no primeiro carnaval que eles foram passar em Salvador, na Bahia. Sofia atrás de Manuela apertava a bunda de um homem e esse moço olhava para traz sorrindo. Manuela que era a própria “miss simpatia” com as pessoas sorria de volta para o moço. E então ficava aquele circulo vicioso: Sofia apertava a bunda do moço, o moço sorria para Manuela e Manuela sorria para o moço. Até quando Kai percebeu toda aquela movimentação e juntamente com Sofia caíram na risada. Manu, então, tinha prometido a si mesma de que Sofia, daquele carnaval em diante, lideraria qualquer fila indiana que o grupo tivesse que fazer para que ninguém corresse riscos lamentáveis como aquele. Então, Sofia fazia verdadeiros zig-zags por entre a multidão e os amigos para acompanhá-los tinham que segurar fortemente nos cós das bermudas ou nas cinturas uns dos outros.

Sofia diminuiu à marcha ao perceber que tinha um “Pão” em sua frente, como Mahya dizia toda vez que achava algum amigo de Sofia bonitão. Sofia propositalmente e num lapso de vingança, pois sabia que Kai era o último da fila e com certeza desta vez não iria atrapalhar, apertou levemente a bunda do rapaz. Ele olhou pra trás e sorriu, Sofia sorriu de volta. Ele comentou algo com os amigos e Sofia deu outra investida na bunda do moço. Ele olhou pra trás e disse: “ao invés de você ficar apertando minha bunda, contendo o seu desejo mais intrínseco, porque você não me dá logo um beijo e agente acaba logo com esse negócio?”. Sofia puxou o colarinho da camiseta do moço, agarrou-o e beijou-o. Os amigos dele deram salvas com palmas e gritos. Manuela ficou estarrecida sem entender nada do que estava passando. Heitor cochichou no ouvido de Manu algo e ambos deram risadas. Kai limitou-se a dizer aos amigos que, enfim, Morrice já podia se considerar oficialmente um corno, e, então, deu uma risada meio sem graça.

O rapaz então começou a acompanhar o grupo de amigos aonde eles iam, sempre de mãos dadas a Sofia. Entre beijos e conversas, Sofia descobriu que ele se chamava Vinicius, era um legítimo pernambucano, engenheiro e que apesar de sua família declaradamente matriarcal nordestina, morava sozinho. Vinicius levou o grupo de amigos para ver o pôr-do-sol do lugar mais alto de Olinda e prometeu a eles que, se quisessem, no dia seguinte, levaria todos para conhecer a praia de Carneiros, uma das praias mais bonitas do litoral pernambucano. Kai foi o primeiro a aceitar o convite com uma ressalva de que ele teria que levar uma amiga junto, pois ele já estava cansado de segurar velas. Promessa é dívida! O sol já tinha sumido, a noite vigorava com toda força e a energia daquele povo rolava solta pela rua. Eles desceram a ladeira e Vinicius levou todos no hotel. Sofia não queria descer do carro, mas também não podia deixar Vinicius “se achando” tanto assim, então, ao fazer intenção de sair do carro, deparou-se com a mão de Vinicius em suas pernas. Você fica! O som daquelas duas palavras soaram tão fortes e tão decididas que Sofia voltou mais que depressa para o banco, piscando, então, o olho para Manu. Manuela subiu as escadas do hotel, enquanto o carro de Vinicius se afastava, e então teve a certeza de que só iria ver a amiga no dia seguinte pela manhã.

23 de fevereiro de 2009

Ida Gomes

Quem não se lembra das três irmãs Cajazeiras de “O Bem Amado” de Dias Gomes? As três solteironas de plantão que viviam bajulando Odorico. Elas nunca se desgrudavam. Ida Gomes fazia o papel da irmã mais velha. A atriz, cujo nome verdadeiro era Ida Szafran, nasceu na Polônia e foi criada na França, antes de vir definitivamente para o Brasil. Vai deixar lembranças, com certeza. Nesta cena de “O Bem Amado”, ela manda as crianças da escola agitarem as bandeirinhas. Vá ser puxa saco de Odorico Paraguassú lá no céu agora...


Milk – A voz da igualdade



A história trata-se da biografia de Harvey Milk (Sean Penn), primeiro candidato gay oficialmente eleito no estado da Califórnia. Nos anos de 1970, Milk e, o prefeito de São Francisco, George Moscone foram assassinados pelo supervisor da prefeitura Dan White. O filme mistura a linguagem de documentário com cinema, o que, na minha modéstia opinião, dá um toque especial quando, por exemplo, não existe nenhuma atriz que faça a personagem de Anita Bryant, cantora americana, ela aprece apenas em reportagens e cenas documentais. Essa leitura ficou maravilhosa.

É um filme sensível pela causa que trata em questão e nos traz bons elementos visuais, tais como o personagem Scott nadando nu na piscina ou mesmo numa das cenas finais quando a multidão vem andando pelas ruas com velas na mão, em homenagem a Milk. Traz-nos também uma boa recordação da moda para quem viveu os anos 70 com aquelas calças boca de sino, os bigodinhos meio cafajeste, as famosas músicas gays que hoje ainda fazem sucesso nas danceterias ou baladas, ou ainda o jeito meio hippie de ser. Sean Penn está único, delicado e humano. A sua atuação foi enorme e, por isso merecido o seu Oscar de melhor ator.

22 de fevereiro de 2009

Jenifer


Em bom francês, diz o provérbio que À bom vin point d’enseigne. Ou, em outras palavras e para deixar tudo claro e sem soberba: "o que é bom não carece de elogios". Mas no álbum (foto acima) Lunatique de 2007 da francesa Jenifer só tem música de primeira, assim, não posso deixar de elogiá-la. Ela tem uma voz gostosa de ouvir, é bonita, tem carisma, é pop e moderna. Precisa mais que isso? Só ouvindo mesmo para se certificar.... O clip abaixo com a música homônima do álbum nos traduz um pouco do que essa artista anda aprontando por aí.








E para quem quiser saber um pouco mais da moiçola, o site dela é http://www.jenifer.com.fr/.

20 de fevereiro de 2009

Festival do Minuto

Família Las Vegas, de Márcio Fernando Moreira.

Uma família e um controle remoto de TV... Premiado como melhor vídeo de humor em janeiro 2009 . Humor?! Você na verdade dá risada de tão ruim que é o filme. Sem comentários.


Matilde, corações não são para voar, de Marina Chevrand Campos.

Por causa do seu grande coração, coisas voláteis acontecem na vida de Matilde. O título é bem sugestivo e a idéia é boa. Lembra um pouco o "Red Bull te dá asas"... Premiado em abril/maio 2008 .

Ato Falho, de Diogo Diniz Garcia Gomes.

Do ano de 2007, quem já não cometeu um ato falho em sua vida? Aquela ação mais inconsciente e "bum", quando viu, já foi: não conseguimos deter. Este é o melhor de todos: simples, direto e bem produzido. Sensacional!


Cine Holiúdy – O Artista contra o Cabra do Mal

Este é o primeiro curtametragem inteiramente falado em cearencês, a começar pelo próprio nome. Francisgleydson, o proprietário do Cine Holiúdy, humilde cinema no interior do Ceará nos anos 70... Um ótimo roteiro, com uma criatividade impar. Algo do tipo: se não tiver cinema, vai de teatro mesmo. Vale também à pena ouvir a música dos créditos até o final: Sorria, sorria (letra Halder Gomes que também é um dos roteiristas). Cine Holiúdy – O Artista contra o Cabra do Mal


Veja quantos prêmios o caba da peste já ganhou:

Melhor Filme - Júri Popular no Amazonas Film Festival 2005
Melhor Filme - Júri Oficial no Festival de Cinema de Campo Grande 2005
Melhor Ator no Festival de Cinema de Maringá 2005
Melhor Cenografia no Festival de Cinema de Maringá 2005
Melhor Música no Festival de Cinema de Maringá 2005
Melhor Filme - Júri Oficial no Festival de Curtas de Natal 2005
Prêmio da ABD&C no Festival do Rio BR 2004
Melhor Roteiro no Festival Latino Americano de Curtas de Canoa Quebrada 2005
Melhor Direção de Arte no Festival Mercosul 2005
Melhor Filme 35mm - Juri Eletrobras no Festival Mercosul 2005
Melhor Roteiro no Festival de Cinema e Vídeo de Curitiba 2005
Menção Especial do Juri no Festival de Goiania 2004
Melhor Filme - Júri Oficial no Mostra do Filme Livre 2005

O casamento de Rachel


O filme acontece durante a festa de casamento de Rachel (Rosemarie DeWitt), numa cidade de Connecticut. A irmã mais nova dela, Kim (Anne Hathaway que fez “O diário da princesa” e “O diabo veste Prada”), chega após um longo período numa clínica de reabilitação. A partir daí, com uma postura sarcástica faz reviver antigas feridas e transforma o casamento dos sonhos num campo de batalha.

Em minha opinião, apesar de muita critica favorável, achei um filme péssimo com tremendo desperdícios de cenas. Uma prova de que a autora (Jenny Lumet, filha do diretor Sidney Lumet), não tinha nada mais interessante para falar sobre o tema. Naturalmente, instala-se um tédio no telespectador, pois, muitas vezes, o filme parece não ter significados ou conflitos próprios.

"O casamento de Rachel" foi indicado apenas ao Oscar na categoria melhor atriz, mas acredito que a atuação da “queridinha da América” teve sim um bom desempenho. O prêmio de melhor atriz está sendo disputado também por Angelina Jolie (A Troca), Melissa Leo (Frozen River), Meryl Streep (Dúvida) e Kate Winslet (O Leitor). O páreo é duro, não sei se ela está com esta bola toda, mas, em se tratando de Hollywood e do carisma que Anne empresta a personagem do filme, pode dar zebra, será?!

19 de fevereiro de 2009

Capítulo 4

O menino desceu na estação da Vila Madalena e saiu correndo com sua pasta na mão. O coração batia tanto que parecia saltar pela boca. Quando virou a esquina, de longe, viu o pé de goiaba. Entrou na pequena vila e gritou: Sofia, Sofia! Ela apareceu na janela e como quem ganhasse um brinquedo de presente, sorriu. Entra moleque, você já está atrasado. O nome dele era José, mas Sofia logo o apelidou-o de moleque, porque apesar dos seus 12 anos de idade aparentava um menino de pouca idade. Sofia o conheceu pedindo dinheiro no semáforo. Estava garoando um pouco naquele dia. Ele aproximou-se do vidro do motorista e desenhou com seus pequenos dedos um coração para Sofia. Sofia olhou para Mahya, que estava no banco do carona, e não se conteve: abriu o vidro. Mahya disse-lhe que ele devia fazer aquele coração no vidro de todos os carros e que tudo aquilo não passava de puro marketing de rua. Mesmo assim, Sofia perguntou o nome dele e se ele estudava. Não tenho tempo, tenho que ajudar minha mãe aqui para que a gente tenha o que comer logo mais em casa. Desde então, Sofia fez um acordo com a mãe de José: pagaria os estudos do moleque se ela não deixasse mais ele na rua.

José subiu as escadas correndo e avistou no topo Carlinhos. Abriu os braços e deu um abraço no amigo. José era um negro simpático e puro sorriso, tinha uns olhos graúdos e castanhos que brilhava em qualquer tempo, horário do dia ou estação do ano. Sofia esperava-o logo na porta de sua sala. Ela se abaixou e o moleque correu para seus braços. Deu um beijo em Sofia daqueles bem morosos. Ele sempre dizia que adorava a demora quando beijava Sofia. Porque atrasou, moleque? Meu pai resolveu aparecer lá em casa, mamãe tá muito nervosa, Sofia. O pai de José era um bêbado que vivia abandonando a família, mas a mãe dele não conseguia dar um basta na situação e então eles permaneciam naquele vai-e-vem de relacionamento, ou melhor, se dizer de sexo, pois era o único argumento que o fazia voltar de tempos em tempos e, principalmente, da mãe de José aceitá-lo de volta. Ainda bem que sua mãe já ligou as trompas, senão corríamos o risco de ter vários molequinhos atazanando nossas vidas... O moleque deu uma gargalhada bem alta e disse: “isso tudo aí é amor pelo neguinho aqui, deixa só que eu tô ligadão em você, viu Sofia”. José colocou a pasta em cima da mesa de Sofia e de dentro dela tirou os lápis coloridos, olhou desolado para Sofia e sinalizou que estava faltando papel. Sofia abriu o armário e tirou um monte deles. Pronto, agora não há mais desculpas. José continuou a olhar para Sofia como quem ainda sentisse falta de algo. Sofia colocou a mão na cabeça e ligou para Laura pedindo-lhe que trouxesse até sua sala uma jarra com água gelada. Como diz Morrice: À chaque fou as marotte. O moleque olhou para Sofia e com um desdém que lhe era natural disse que devia ter perdido alguma aula de português na escola, pois não tinha entendido absolutamente nada do que ela falara. Ah! Moleque isso significa em francês: cada louco com sua mania. Em francês?! Sim, em francês. E onde tu aprendeu isso? Tu aprendeste, moleque, e não tu aprendeu... Todas as sextas-feiras à tarde, Sofia dedicava quase que duas horas do seu tempo ensinando a José os traços de um desenho perfeito e todas as técnicas para se criar um bom sapato. Hoje eu posso criar um tênis, Sofia?! Sofia não criava muito tênis no seu dia-a-dia, não era o seu forte. O que ela gostava mesmo era criar sapatos com saltos altos totalmente estilizados ou sapatilhas com toque pra lá de engraçadas.

José olhou irrequieto pra Sofia e soltou: você embromou, embromou e não me disse quem é este tal de Morrice. Sofia olhou para o moleque, levantou levemente as sobrancelhas e deu uma risadinha. É o namoradinho da vez, moleque. Outro?! Sofia riu da espontaneidade da pergunta de José e questionou-lhe se ele não estava sendo folgado demais. Já me basta Kai me perseguindo com os meus namoradinhos. Ela se levantou, abriu o armário e tirou um desenho. Mostrou para José. Era um sapato com plataforma dianteira, e na parte de cima tinha um pequeno recorte na frente meio que de lateral. O salto lembrava a Torre Eiffel. O moleque achou bonito, parecia que o salto era feito de aço. O engraçado era que, ao contrário dos outros saltos que Sofia desenhava, parecia que estava de cabeça pra baixo. O moleque só entendeu mesmo depois que Sofia mostrou-lhe uma foto da torre em Paris e disse-lhe que era proposital que o salto imitasse o monumento.

Laura entrou na sala com a jarra de água gelada e colocou-a em cima da mesa com os copos. Sofia toda vez que você arranja um namorado novo, você cria um sapato em homenagem a ele? Sofia deu uma risada gostosa. Aquele moleque era, na maioria das vezes, tão irônico e com um tempo de piada tão bom que sempre a divertia. Um dia você vai ter uma coleção grande, Sofia! A união faz a força, moleque, ou, como dizem os parisienses L’union fait la force. O menino achou que Sofia estava metida demais falando aquela língua. E ela ainda fazia biquinho mesmo com a boca carnuda que tinha, dava para ver uma parte dos dentes da frente. Sofia prometeu para José que assim que o carnaval passasse, ele conheceria Morrice. Combinado, então? Combinado. Sofia deu um beijo na testa de José, entregou-lhe um saquinho com pães de queijo e ele saiu correndo em direção à estação de metrô.

Diário de Sofia

Diariozinho,
Kai ficou puto por eu ter levado Morrice para almoçarmos. Bobeira dele, mas enfim, agora é oficial, acho que tô namorando aquele francês gatinho. Ah! E se quer saber, já dei pra ele também. Foi bom, melhor do que eu esperava, mas sem detalhes sórdidos, ok?! Esse namoro vai ser muito bom pro meu currículo. Imagina: Sofia namorando um francês legítimo... Só rindo para não chorar. E o melhor de tudo é que ele não fede.

O moleque continua mandando bem nos desenhos, será que eu descobri um talento?

E o carnaval?! Está chegando, hein... Eu, Manuela e Kai já estamos de malas prontas. Só estou preocupada com o Morrice, afinal, namorado e carnaval definitivamente não é uma dupla perfeita. Mas, enfim, vou pagar pra ver. Ele quer ir assistir as escolas de samba do rio, como todo gringo que se preze, e, eu já tinha outros planos com meus amigos, afinal, trato é trato. Estou muito ansiosa, mas tentarei não sofrer por antecipação. Vamos ver no que vai dar.

Sofia.

17 de fevereiro de 2009

Hamlet




Com Wagner Moura é mais do que um espetáculo, é uma re-visita a Shakespeare com um olhar mais moderno diante de uma obra pra lá de clássica. Moderno em suas vestes e no uso da tecnologia wireless. Para quem já viu algumas das inúmeras montagens do príncipe dinamarquês tomado por impulsos de vingança após a morte do pai e a coroação subseqüente do tio (nesta montagem interpretada por Tonico Pereira), aqui a linguagem de Shakespeare continua poética sem ser rebuscada.



O tempo da peça é coisa de louco, são quase 4 horas, mas você se quer sente, apenas na hora do intervalo que pode parecer suicídio, mas não se pensa em outra coisa a não ser fazer xixi. Nestas horas, penso que os banheiros das mulheres deveriam ter mais cabines que o dos homens. Será que os engenheiros nunca pensaram nisso na hora de construir banheiros femininos públicos?! Mesmo assim, Hamlet de William Shakespeare com Wagner Moura vale à pena. Está em cartaz na FAAP.

O leitor


O filme, passado na década de 1950, trata-se do encontro entre Hanna Schmitz, uma alemã cobradora de bonde, com Michael Berg um jovem de apenas 15 anos. Ambos com visão do romance, ou caso, totalmente diferente. Enquanto namoram, ele lê para ela.

O rumo da sua história fica ainda mais surpreendente quando descobrimos que a vida do garoto continua, porém, as ironias do destino trazem Hanna de volta à sua vida, mas em outras circunstâncias. Condição esta que, nem o telespectador pode imaginar e, por isso, nos causa surpresa.

As cenas de nudez nos fornecem elementos visuais maravilhosos, são bem dosadas. Uma delas, inclusive, nos revela um contraste fabuloso, quando os dois nus na banheira, o garoto ao ler para ela um trecho de um livro que se trata exatamente de uma cena de sexo, ela simplesmente repudia tal fragmento, como se ela não o tivesse desejo pelo ato sexual.

Diria que o tema circunda muito mais no analfabetismo, do que no holocausto, que serve apenas como pano de fundo para exercitar um conflito dentro da história. E, digo, um analfabetismo em todos os sentidos: o do amor, o da escolha, o da vergonha e também do não saber ler e escrever.

Não é à toa que o drama "O leitor", recebeu tantas indicações para o Oscar. A atriz inglesa Kate Winslet recebeu sua sexta indicação à estatueta e desponta como a favorita na categoria de melhor atriz. Ela está única como Hanna e empresta uma humanidade incrível para um personagem mega complexo. Kate está com a corda toda, além de sua atuação maravilhosa em “Foi apenas um sonho”, nos presenteia com mais este papel. Além desta categoria, o filme concorre com melhor filme, diretor, roteiro adaptado e fotografia. Vou torcer pelo roteiro, pois está excepcional.

16 de fevereiro de 2009

Monstros S.A.

Monstros S.A. é o desenho animado mais perfeito que assisti nos últimos tempos. O roteiro é um primor, belíssimo, diria. Quem quando era criança não tinha medo da porta do armário ou do escuro de baixo da cama. Na imaginação de qualquer menino ou menina do mundo, todas as noites, éramos rodeados por monstros perversos. E os monstros, coitados, no filme, acham que estes seres infantis são uma ameaça para sua “monstrópolis”. Em tempos de sobrinha de dois anos visitando titia em casa, consegui assistir a este, que pra mim é um clássico, pelo menos umas cinco vezes. Virei criança, decorei até os diálogos e expressões dos personagens. Bu é um encanto de criança e, os monstros (ah!) são prodigiosos. Cada um com uma personalidade e uma piada humana intrínseca. Muito bom rever este filme.

Na empolgação, separei um pequeno filme intitulado “Novo carro de Mike” com a participação dos personagens Sulley e Mike. Reparem Sulley ajustando o banco, até parece gente grande quando entra em qualquer carro novo. E Mike, com sua personalidade pra lá de irritada serve de escada pra Sulley. Este filmete não faz parte do longa-metragem.





E já que eu falei da Bu, veja este pequeno trecho do filme original para se certificar de que a pequena menina é realmente encantadora.... Atentem-se aos olhinhos de sono dela. Muito bom!


15 de fevereiro de 2009

Presto

E quem disse que um simples desenho animado não pode vir com personalidade? Presto é a prova viva disso: um coelho com fome, mas extremamente vingativo e um mágico que quer ter o controle da situação, mas sempre se dá mal. A combinação da história é perfeita, um espetáculo de risos até para os marmanjões...


11 de fevereiro de 2009

Paula

Certa feita, um professor do curso de jornalismo disse que a linguagem narrativa de quem escreve para um jornal é diferente de quem escreve para uma revista. De fato é. O jornal, a meu ver, tem uma linguagem mais dura enquanto que a revista mais suave, guardada suas devidas proporções. Então, o exercício era ler “Paula” de Isabel Allende para saber como envolver um leitor e deixá-lo interessado no assunto de forma prazeroza. Isso ocorreu há quase 10 anos e até hoje nunca me esqueci deste livro. Ter tido oportunidade de ler “Paula”, foi no mínimo uma evocação a vida. Paula é o nome da filha da escritora que em dezembro de 1991 ficou gravemente enferma e internada em um hospital na Espanha. O livro é humano e a gente tem oportunidade de ler história de ancestrais bizarros ao tempo que conhece um pouco mais da juventude da autora. O Chile e o golpe militar de 1973, seguidos do exílio da família de Isabel são alguns dos pontos fortes do livro. Aliás, foi o único livro que li até hoje e me fez chorar. Ele é bárbaro!

10 de fevereiro de 2009

L'Effet Papillon

Conheci as músicas de Bénabar quando, na França, pedi para uma francesa legitima listar algumas músicas pop, rock e músicas francesas, de fato, ou algo do tipo que se assemelhasse à nossa MPB, entre outros. Daí veio Bénabar na listagem. Adorei a melodia e trouxe-o comigo. A letra desta música nos faz pensar...




9 de fevereiro de 2009

Hipopótamo

O hipopótamo é um mamífero pra lá de grande que nos fornece jogos de imagens interessantíssimos... Eu adoro esta série de animação. Algumas são velhas, mas tem humor à flor da pele.







7 de fevereiro de 2009

Capítulo 3

O despertador tocou e bastante estabanada Sofia desligou-o. Puta merda... Odeio segunda-feira! Esfregou os olhos, espreguiçou-se lentamente como se o mundo não fosse acabar e deu um gole de água. Bem, agora estou pronta pra guerra. Ao chegar à frente do espelho, Sofia pensou que mais parecia que as trincheiras das grandes batalhas de Napoleão estavam em seu rosto, de tão amassado que ele se encontrava, do que estaria pronta para a luta. Deu risada. Durante a semana a rotina de Sofia não mudava: acordava cedo, tomava café com os pais e seguia para o trabalho, de lá fazia cursos, todos os que se pudesse imaginar: ioga, corte e costura, pedras preciosas, boxe, enfim, uma infinidade de aulas para não cair no tédio. Sofia, apesar de seus vinte e nove anos, ainda morava com os pais. Optou por morar com eles muito mais pelo comodismo que tinha do que pela liberdade que poderia ter se morasse sozinha. Mordeu o pão, estava quentinho. Definitivamente só saio desta casa sob tiro...

Pegou a bicicleta e foi trabalhar. Não era ecochata, dizia, mas se tenho a possibilidade de deixar minha bunda mais dura, então, o que haveria de mal nisso. Sofia morava e trabalhava na Vila Madalena, bairro Cult e cheio de novidades. Putz, quando chegar ao escritório, eu preciso ligar pro Kai, senão vai achar que tô esnobando ele. Ela tinha montado seu escritório há dois anos em parceria com Carlinhos numa rua sem saída que acabara transformando-se em uma pequena vila comercial. Carlinhos, um arquiteto, Sofia, uma designer de sapatos, para quem estava começando, não precisava de muito espaço, apenas de tranqüilidade para criarem seus projetos. Jesus do céu, eu preciso finalizar as criações da fábrica do ceará ainda hoje... Sofia abriu a porta e dirigiu-se ao quintal para deixar sua bicicleta. Era um sobrado charmoso com um jardim na frente em que o artista principal era um pé de goiaba. Na parte de baixo do escritório, a sala tinha virado uma bela recepção moderna com várias intervenções do passado. Em cima, os quartos viraram escritórios, cada um teria, então, sua privacidade. A cozinha virou copa e o quintal uma sala de reunião bem louca e extremamente aconchegante. A mesa de vidro enorme tinha um recorte redondo bem no meio, deixando, então, espaço para que o tronco da mangueira pudesse fazer parte daquela decoração. Além de Sofia e Carlinhos, trabalhava Lauricéia. Ela era uma espécie de secretária, recepcionista e copeira, mas preferia ser chamada de Laura.

Laura estava no fundo limpando a mesa de vidro quando Sofia chegou. E Carlinhos? Já está lá em cima brigando no telefone com o namorado, respondeu Laura. Sofia balançou a cabeça e deu risada. Subiu e ouviu Carlinhos brigando no telefone e batendo a mão na mesa. Puta que pariu, bicha adora bafafá, é por isso que toda mulher que se preze, precisa de um amigo bicha. No mínimo, ele vai te tirar da rotina. Sofia abriu a janela e suspirou. Meu Deus, vá ser gostoso lá em casa! A sala de Sofia tinha sido tirada num sorteio entre ela e Carlinhos. No começo ela não tinha gostado muito da idéia. Ela preferia o quarto do fundo que dava para o quintal, pois era mais tranqüilo e sem o barulho da rua. Ela precisava ter sossego para suas criações, mas, no dia em que viu o vizinho da frente estacionando e descendo do seu carro, encontrou a paz que queria, então, decidiu deixar como estava mesmo: sorte é sorte, fico, então, com a sala que dá pra rua. O vizinho acenou pra ela e Sofia mais do que depressa sorriu. Não, hoje eu preciso me concentrar, de verdade Sofia e sem brincadeiras. Mas, Sofia não teve coragem e acabou deixando a janela aberta mesmo. A janela do vizinho ficava bem em frente a sua, logo ele iria subir e abri-la. O celular tocou. Morrice, que grata surpresa, como tem passado? Morrice disse-lhe que passou o domingo pensando nas expressões bem brasileiras que tinha aprendido com Sofia e, mais que diretamente, como são todos os gringos, perguntou a Sofia se ele podia jantar hoje à noite com ela. É... Ele está querendo me comer, mas eu só posso dar pra ele no terceiro encontro. Sofia tinha algumas manias, mas a mania de só ter relações amorosas no terceiro encontro era uma regra seguida à risca quando se queria ter algo sério com um cara. Bem, podemos considerar que o parque foi nosso primeiro encontro, então, faltam mais dois. Morrice, hoje à noite eu já tenho um compromisso, mas que tal se você viesse almoçar comigo, daí aproveito e te mostro meu escritório. Morrice concordou. Pronto, deixamos o jantar para depois de amanhã...

O vizinho abriu a janela e mais uma vez sorriu pra Sofia. É, meu filho, se você não fosse casado, já tinha feito uma festa daquelas lá no seu apê. Essa era a segunda regra de Sofia: homem casado para ela era mulher. Sofia aprendeu com Mahya que só se deve fazer com o outro aquilo que gostaríamos que fizessem conosco. Como já tinha sido corneada na adolescência, sabia muito bem a dor que sentira, então, não queria causar aquele sofrimento para ninguém. Mas olhar, não tira pedaço, e, afinal ela também admirava mulheres bonitas. Sofia sorriu de volta para o vizinho. Sua fraqueza mesmo eram os homens bonitos ou charmosos.

Sofia passou a mão no telefone e ligou pra Kai. Estou com saudades de você, Kai! Então porque não ligou, podíamos ter ido ao cinema ontem, Sofia. Kai era mais charmoso do que bonito. Estou ligando porque a saudade só bateu agora, Kai. Kai ouviu o suspiro de Sofia do outro lado do telefone. Aposto que tem gente nova no pedaço, não é Sofia? Kai, era irritante, parecia que conhecia mais Sofia do que ela própria. Era um sentimento dúbio: ao mesmo tempo em que isso irritava Sofia, às vezes amava esse jeito dele, como se fosse uma forma de Kai demonstrar o carinho que sentia por ela. Vem almoçar comigo hoje, Kai que eu te conto qual é a novidade...

A manhã passou tão rápida que Sofia só sentiu que era quase meio dia quando Carlinhos bateu na porta dela e disse: hoje tenho almoço com um cliente, vou ter que te abandonar. Já está na hora do almoço?! E Sofia ouviu dois toques suaves da campainha, era Kai, com certeza. Desceu correndo, pulou em cima do amigo com as pernas entrelaçando a cintura dele e o abraçou. Ela o beijou na bochecha, no cabelo e no nariz. Nossa, Sofia, isso é que é saudade, hein?! Quero saber de tudo, qual é a boa nova, fechou contrato com aquela indústria cearense? Sofia tinha que postar ainda hoje toda a sua coleção de sapatos para fábrica no Ceará. Porra, nem me lembre disso, tenho que finalizar a coleção depois do almoço e mandar pros caras, vamos tomar um cafezinho da Laura?! Kai admirava Sofia em tudo. Parecia uma menininha com aquele cabelo curto, liso e repicado. Ela era tão magrinha e parecia-lhe tão frágil que ele sempre tinha o desejo de proteger-lhe. Sim, mas me conte e a novidade? Laura entrou na copa e disse: Morrice pra você, Sofia. Sofia agradeceu, olhou para Kai com ar sapeca e foi-se dirigindo para a recepção. Vem, Kai, gostaria de apresentar a novidade para você. Kai olhou meio sem graça para a novidade de Sofia: um gringo. E ainda por cima francês, deve ser fedido. Os três foram almoçar juntos.

6 de fevereiro de 2009

Antes...


“Antes do amanhecer” e “Antes do pôr-do-sol” são excelentes filmes. Recomendaria assistir primeiro o romance “Antes do amanhecer” e na seqüência o “Antes do pôr-do-sol”. Um é continuação do outro, mas uma continuação passada depois de longos 9 anos. E com o mesmo diretor e atores. Os dois romances foram dirigidos por Richard Linklater e contracenados pelos atores Ethan Hawke e Julie Delpy.

Em “Antes do amanhecer”, Jesse e Celine se conhecem num trem na Europa, mas fazem todos os momentos valerem à pena. Aqui, Ethan Hawke e Julie Delpy interpretam jovens nos seus vinte e poucos anos que se identificam imediatamente e decidem explorar Viena juntos. Nessa pegada, o amor é o destino deles.

Já em “Antes do pôr-do-sol”, a magia está no reencontro desses personagens. De tanto tempo afastado, eles não parecem mais estranhos se encontrando por acidente, e sim, agora em Paris, tendo uma chance de descobrir se o primeiro encontro acidental teria dado certo. O único problema é que eles têm apenas algumas horas para decidir se devem ficar juntos. No final do filme, tem aquele gostinho de quero mais. E agente fica com aquela certeza de que mais uns 10 anos e seremos presenteados por mais uma terceira versão.

Os filmes são histórias românticas atemporais de dois corações e duas mentes hesitantes, cuja poderosa conexão desafia o tempo e o espaço. Não é um filme fácil de encontrar, mas vale à pena encomendar e comprar.

4 de fevereiro de 2009

Sem Ana

O roteirista parece que escreveu tendo em mente todas as virtudes do cinema, onde o público vê apenas aquilo que ele escolheu, mudando tempo e espaço com muita facilidade. O roteirista, Eduardo Gameiro, oferece uma nova experiência ao público...Sem Ana. Um curta que brinca com o tempo de maneira inteligente e audaciosa. Um roteiro bem embasado, daqueles que sabe o que quer e para o que veio.



Charly Braun e os seus curtas

Charly Braun é um cineasta brasileiro formado pela Emerson College em Boston que dirigiu dois curtas: o recente “Do mundo não se leva nada (2005)” e o “Quero Ser Jack White (2004)", que fora exibido em mais de 20 festivais no Brasil e no exterior. Ambos curtas contam com a participação dos atores Iara Jamra e Fábio Lucindo. É um mundo bastante adolescente, mas nada como relembrar o que já fomos...

Em “Quero Ser Jack White”, qual o adolescente que em plena perda da virgindade não conseguiu achar o buraco certo rapidinho? Essas coisas a gente aprende rápido, não?!

Veja o curta: Quero Ser Jack White


E em “Do mundo não se leva nada”, temos certeza de que se tem um lado bom de saber que o mundo vai acabar é que a gente não se prende mais nas coisas do futuro, de fato.

Veja o curta: Do mundo não se leva nada

Maahi Rock Video

Em tempos de caminhos das Índias que tal sair um pouco da esfera pra lá de caricata da novela global e escutar um pouco de rock indiano. Sim, rock indiano: moderno, de batidas fortes e com muita personalidade. Aliás, um clip bem “profissa”. Dizem que no final de 2008 foi considerado o “balanço da estação”. Um verdadeiro balanço Istyle!!!


2 de fevereiro de 2009

Foi apenas um sonho

O título é bastante convidativo, apesar de não ter nada a ver com o original: Revolutionary Road. Leonardo DiCaprio e Kate Winslet interpretam um casal que nos anos 50 parece ter uma vida perfeita, apenas parece. Mas crises sempre existem e o que seria do cinema sem elas? Então, ela, uma dona de casa que sente ter jogado seu sonho de ser atriz no lixo e ele com um trabalho pra lá de tedioso vão ter que acertar contas com um sonho de largar tudo na América e viver em Paris. Nos primeiros minutos o filme parece muito não envolver o telespectador, mas depois de uns vinte minutos ele convence. As máscaras do que parecia ser algo do tipo: “não vamos ficar presos aos limites sociais”, caem e, eles que pareciam encher-se de uma autoconfiança são surpreendidos pelo dogma desta dita cuja sociedade. O final é inesperado principalmente para a década em questão.

Um homem chamado Jesus


Mariângela Berquó Ramalhão, brasileira, jornalista especializada em geopolítica e pós-graduada na Sorbonne, pesquisou a vida de Jesus por, pelo menos uns quatro anos. Leu tudo quando eram evangelhos bíblicos e escritos gnósticos, entrevistou e viajou. O resultado foi este livro maravilhoso que mostra Jesus, como um homem que realmente foi antes de tudo. Uma sensível narrativa, baseada nos últimos três anos de vida do fundador do Cristianismo, feita na primeira pessoa por Maria Madalena, prostituta que, salva por Jesus da morte por apedrejamento, tornou-se sua discípula fiel e companheira apaixonada. É um livro gostoso de ler, reler e passar à diante, mesmo para aqueles que são ateus.

1 de fevereiro de 2009

Capítulo 2

O sol bateu em seu rosto e não teve jeito, Sofia acordou e já ia ficar mal humorada. Em geral, gostava de fechar todas as janelas, cortinas, blackouts e tudo o que tinha direito para que a luz do sol não a acordasse, mas ao ver o beija flor em sua janela naquela manhã, simplesmente, por alguns instantes ela parou de respirar. Sofia tinha ido dormir tão entediada na noite anterior que se esqueceu da sua mania de deixar tudo escuro. Pronto, agora deu no que deu: nove horas da manhã e ela ali acordada em pleno domingo. Tinha que, então, inventar algo logo urgente para fazer, se não, o tédio do dia anterior poderia se prolongar por aquele dia tão ensolarado. As asas do beija-flor batiam com tamanha rapidez que nem seus olhos conseguiam acompanhá-las e ele era tão intrometido metendo seu bico entre as flores. Por um instante, Sofia pensou em ser assim: intrometida. Não. É melhor não, alguns de meus amigos já me acham inconveniente, imagine agora se eu resolvo devassá-los?! Iriam me deserdar como amiga. E deu uma leve risadinha. Até que não era má idéia, mas, diante das circunstâncias era melhor deixar tudo como estava mesmo que já era de bom tamanho. É, está na hora da senhorita levantar. Força, você vai vencer a preguiça! Acredite em você.

Quando Mahya viu a filha acordar foi logo perguntando se tinha bicho na cama. Mahya, não me deixe irritada, está muito cedo pra isso, cadê papai? Desde cedo, Sofia tinha sido acostumada pela mãe de chamar-lhe pelo nome. Ela era muito jovem quando Sofia nasceu e, narcisista que era tinha medo de envelhecer, por isso nunca deixou que a filha lhe chamasse de mãe. Se ela me chamar pelo nome, vamos parecer irmãs. E pareciam. Seu pai, pra variar, está lavando aquele carro, respondeu Mahya num tom de deboche. Mahya e Pedro sempre se deram muito bem. Apesar de terem se casado apenas porque Sofia vinha ao mundo e precisava de uma dita estrutura familiar, eles eram a exceção à regra: continuavam se amando. O único assunto que tirava Mahya do sério era aquele amor exacerbado que Pedro tinha pelo carro e, também, pelo futebol. Jurava que um dia, se tivesse coragem, ia pegar um machado e meter no carro. Mahya, se isso te irrita tanto, dê um filho pra papai que o amor dele se desvia. Pedro sempre quis ter um filho, mas os anos foram se passando e nada aconteceu. Sofia, então, pra recompensar o irmão que não teve, comportava-se muitas vezes como moleque. E, exatamente nestas horas, o pai se aproximava mais dela, talvez como uma forma de gratidão. Sofia deu uma olhada pela janela e acenou para o pai. Pedro, um tanto surpreso, deu de ombros como se quisesse perguntar o que tinha acontecido e Sofia rapidamente com um gesto deu-lhe uma banana. Ele gargalhou.

Sofia olhou para o relógio. Puta que pariu, são nove e meia, ainda! Se eu ligar pro Kai ele vai me matar e com toda razão. Eu o mataria sem dó nem piedade. Talvez Manuela esteja acordada. Se é que ainda não foi correr no parque, vou tentar. Ligou. Manu está? E ouviu a voz de sono, pra lá de embolada de Heitor, o namorado da amiga: “Manu está no parque, foi correr”. Desligou sem nem ouvir um obrigado. Como podia um casal daqueles se dar tão bem? Ela um esportista inveterada, ele um preguiçoso assumido. Ele só podia ser bom de cama, não tinha outra explicação.

Sofia pegou a bicicleta e parecendo uma louca pelas ruas foi cortando os carros e subindo em calçadas. Andou bastante pelo parque, mas não encontrou a amiga. Bom, o jeito é tomar uma água de coco e ir pra casa. Uma água de coco, por favor! Foi assim que Sofia conheceu Morrice. Ele perguntou com um sotaque inconfundível de estrangeiro tentando falar bem o português se ela queria tomar um café com ele. Café? Em pleno verão? Ah! Esse gringo está tirando com a minha cara... E sorriu. Bem, se você quiser me oferecer uma água de coco, acredito que vai ser mais conveniente neste momento. O papo rolou solto, enquanto Morrice dizia que era francês e estava no Brasil pra concluir seu mestrado em línguas, Sofia olhava encantada a beleza do rapaz. Línguas, hein, bem conveniente este mestrado. Se eu contar pros meus amigos que estava sentada quietinha pedindo uma água de coco, eles vão dizer que “partindo de Sofia, sinceramente, a gente pode esperar tudo”. Morrice, então, pediu que ela ensinasse algumas expressões típicas brasileiras... Eu só sei expressões chulas, adiantou. Culhuda. Culhuda?! Mas isso não é chulo, isso é... Morrice parou por um instante como se tivesse pensando e disse: pornografia. E Sofia deu uma gargalhada bem alto. Não, Morrice, culhuda significa uma mentira bem grande. E quem conta uma mentira tão grande destas é um culhudeiro por natureza. Que “interresante”! Agora sua vez, me conte uma. Faire du bordel. Ah! Isso aí é que é sacanagem, hein, Morrice. Não, faire du bordel é um idiomatismo que significa bagunçar o coreto. Sofia começou a achar aquele papo bastante interessante. É esse francesinho dá um bom caldo. Entre trocas de expressões idiomáticas, provérbios e palavrões Sofia ensinou o que podia e o que não podia para Morrice e este, um pouco acanhado de inicio, mas decidido ensinou-lhe outros tantos.

Sofia já estava começando a ficar com fome quando perguntou as horas ao vendedor de coco. São duas da tarde, respondeu. Bem, Morrice, eu preciso ir. A esta altura do campeonato meus pais já devem estar preocupados. Sofia e Morrice trocaram telefones, emails e ficaram de se falar pra que Sofia pudesse apresentá-lo aos seus amigos. Morrice, quantas línguas fluente você fala? Ah! Sofia, fluente mesmo, eu falo três: francês, inglês e português. Sofia chegou bem perto de Morrice e tascou-lhe um beijo, um beijo destes típicos de cinema e, no final, com a cara mais lavada possível disse: pronto, agora você pode falar que é um poliglota, já é fluente na língua de Sofia. Piscou o olho pra ele e saiu andando em sua bicicleta enquanto ria. Au revoir, Morrice! Au revoir... Morrice ficou ali, parado, rindo e olhando Sofia partir.