30 de junho de 2009

Les petites choses

Tive oportunidade de ouvir o CD deste grupo, de jovens franceses, intitulado Sur Le Fil (com tradução literal “Sobre um fio”) e, tenho que admitir, simplesmente adorei a música inventiva dos jeunes gens. No CD, as minhas preferidas são as músicas “Concert celeste”, “Piano bar”, “Au creux d’une bouteille” e “Bol d’air”. As músicas têm um astral incrível e um swing contagiante. E a base do trabalho deles é o violão. Aliás, diga-se de passagem, o CD que eu ouvi, e, me foi emprestado, foi comprado nas ruas de La Rochelle diretamente do grupo que cantarolava por tais bandas. Quer algo mais original e inusitado do que isto? Só na França mesmo para acharmos algo tão incomum assim. Na web, para quem quiser saber um pouco mais dos jovens músicos, encontramos: http://www.myspace.com/lespetiteschosesdelavie ou ainda http://www.lespetiteschoses.canalblog.com/ . Confira!


29 de junho de 2009

A queda da Monarquia Francesa




É um livro meio chato de ler, acho que por ser um pouco erudito demais, mas se você persistir, vai ver que tem muita história reconstruída com detalhes. Munro Price conta os fatos desde a diplomacia clandestina do casal real de 1789 (leia-se Luís XVI e Maria Antonieta) até a data de sua execução. Ah! E óbvio que com participação do barão de Breteuil e tudo mais... Só pra constar, o autor é doutor em Histórias pela Universidade de Cambridge e este é o terceiro livro dele.

25 de junho de 2009

Capítulo 12

O chiclete ia e vinha na boca de Sofia numa luta incansável com a língua dela. Vez em quando uma grande bola se formava à sua frente e ela imitando uma pessoa zarolha admirava o seu feito. Sentia-se orgulhosa. Ria. Não contente estourava a bola com o seu dedo indicativo. O chicle voltava novamente para a boca e aquele passatempo se repetia até que algo mais fascinante pudesse lhe chamar a atenção. Fez bola de chiclete, cantarolou algumas velhas cantigas de ninar e pensou um pouco em sua vida. Sem perceber passou quase vinte minutos naquela brincadeira entre a goma de mascar e seus pensamentos. Só se apercebeu que o tempo voava quando Morrice abriu a porta do banheiro e, já de banho tomado, pulou na cama em cima dela tentando beijá-la insistentemente. Ela, em contrapartida, fazia cócegas nele como quem quisesse revidar o susto que tomara e em tempo aproveitava para, num ensaio divertido, brincar mais um pouco com aquele gringo que já considerava seu namorado. Ao se cansarem, os dois deitaram na cama, cada um para um lado, como quem tivesse feito um esforço físico incomum. Depois de rirem um do outro, trocaram olhares e, assim, ficaram mais alguns minutos como se a fadiga fosse uma palavra que não existisse naquele dicionário do amor. Beijaram-se e, numa expressão de mais puro carinho, não resistiram à atração um pelo outro e, então, ali mesmo, sem cerimônias, transaram. A única música que tocava neste meio tempo era o celular de Sofia que insistentemente soava sem parar. Nem Sofia e nem Morrice se abalaram com tal melodia. Horas depois de terem consumado o fato, Sofia lentamente dignou-se a levantar-se da cama e ver quem teimava em te ligar. Tinham cinco ligações, todas de Kaí. Ouviu as mensagens. Imaginou o que Kai pudesse querer com ela e disse como quem precisasse justificar algo em alto e bom som que retornaria pra ele mais tarde. Morrice não entendeu nada, mas preferiu não perguntar.

Não demorou muito para que Kai ligasse novamente para a amiga. Ela atendeu. Porra, Sofia, você não me atende e também não me retorna as ligações. Ela deu risada. Estava ocupada, Kai, não é sempre que estou disponível, mas o que tanto você quer comigo? Sem muito rodeio, Kai, lembrou a Sofia que, conforme tinham se falado no Jacaré Grill, eles ficaram de jantar de casalzinho. Lembra Sofia? Ficamos de sair juntos: eu, você, Morrice e Ketlyn. Quero muito que você a conheça. Tenho certeza de que irá gostar muito dela. Sofia lembrou-se que achara, num primeiro momento, o nome da moça esquisito. Deu uma risada sínica consigo mesma. Continuava achando ela com nome desagradável. Sofia não podia cometer a indelicadeza com o amigo, mas não tinha estimado nenhum pouco aquela idéia, muito menos sentia feição alguma pela tal da Ketlyn. Mas como amizade não escolhe intempéries, aceitou o convite. Kai já tinha feito tanto por Sofia, que se sacrificar um pouco por ele era, no mínimo, prova de respeito pelo sentimento do amigo. Vou falar com Morrice e nos encontraremos no restaurante. Kai ficou animado, há muito não fazia este tipo de programa, passou tanto tempo galinhando e pulando de galho em galho que talvez já tivesse esquecido como era o começo de um relacionamento sério.

Na entrada do restaurante alguns lampiões eram colocados como lustres, bem como sinalizavam o corredor tortuoso até que dessem numa espécie de grande jardim. Um jardim bem iluminado e com alguns objetos de arte contracenava com as mesas que o rodeava. As luzes das mesas eram bem escassas para propiciar aos clientes um clima mais romântico. As cadeiras e as mesas não se combinavam, mas formavam uma ambientação por vezes agradável. O restaurante era um misto de rústico beirando o refinamento com algumas peças decorativas aqui e acolá. Ele era conhecido pelas comidas com tempero diferenciado e cozido com produtos orgânicos. Kai, assim que viu o casal chegando, acenou para Sofia. Ela acenou de volta. Sofia tinha se produzido toda. Uma mini-saia preta de babados ornava com um top de renda super discreto. Como um toque especial, prendeu a frente dos seus cabelos, pôs um colar de pérola legitima e um salto alto a La Luis XV criado por ela. Estava linda. Morrice todo orgulhoso empunhava suas mãos nas costas de Sofia e desfilava com ela por todo o restaurante até chegarem à mesa. Sofia cumprimentou Ketlyn com um sorriso de cabo a rabo. Keka, como era chamada por Kai, extremamente simpática, beijou Sofia no rosto. Pareciam que competiam entre si para o posto de “miss simpatia”. Os casais pediram vinho, beliscaram alguns petiscos e jantaram. Morrice contava histórias hilariantes de quando ele era adolescente e passava suas férias em Nice, no sul da França. Kai sugeria algumas traquinagens dele e de Sofia no tempo de escola e confessava para o grupo, o quanto Sofia fazia-lhe passar vergonha. Ketlyn revelou que paquerava Kai desde o primeiro dia que o viu. Kai beijou Keka. Sofia mexeu-se um pouco na cadeira como quem já estava impaciente daquelas histórias e pediu licença para ir ao banheiro. Ketlyn, aproveitando a oportunidade, disse que ia acompanhá-la também. Que menina mala sem alça. Se ela bem soubesse que odeio ir ao banheiro como se fosse um par de jarros, não se escalaria desta forma, pensou Sofia. Deu risada e levantou-se. Será um prazer tê-la como companhia. Disse cinicamente. Era visível que Keka queria se aproximar de Sofia. Tentou emprestar-lhe um batom, mas foi recusado. Falou de lojas e grifes de roupas, mas Sofia parecia não estar muito a fim de prestar atenção. Voltaram à mesa. Sofia pediu para Morrice para eles irem embora, pois ela estava com dor de cabeça. Acho que foi o vinho, justificou-se. Morrice agradeceu a noite agradabilíssima que passou com todos. Ao se despedirem, Kai abraçou a amiga e perguntou se estava tudo bem com ela. Eu só estou com dor de cabeça, Kai, nada, além disso. Mentiu.

22 de junho de 2009

Uma parede para dois

Quem nunca viveu uma situação parecida como a deste curta ou teve alguém próximo que se comunicasse com outro através dos baticuns nas paredes que jogue a primeira pedra. Uma parede para dois, apesar de sua simplicidade é um charme enquanto curta. Prestem atenção também na seleção das músicas.

21 de junho de 2009

Salvador 71

Para entender melhor este curta, é melhor que você já tenha ouvido falar da importância de Carlos Lamarca na história que compreende o período da ditadura no Brasil. Em “Salvador 71” a abordagem deste personagem é poética e política. Como guerrilheiro e ex-Capitão do Exército Brasileiro, nós descobrimos nas entrelinhas deste curta-metragem uma resistência única à ditadura militar no ano de 1971, bem como a tradução do momento vivido na época. Excelente texto e imagens pra lá de sugestivas. Este curta recebeu o Prêmio de melhor direção do Festival de Brasília em 1979.

20 de junho de 2009

They're made out of meat

A New York Film Academy (http://www.nyfa.com/) tem curtas de excelentes produções e com detalhes impecáveis, temos que tirar o chapéu. Para terem um pouco de idéia, separei uma palhinha de produção norte-americana em estágio experimental. “Eles são feitos de carne” (que seria a tradução desta película em inglês) é uma película com uma pluralidade de personagens maravilhosos e um aspecto pra lá de suspeitos. Muito bem feito. O curta foi feito pelos estudantes da NYFA.

19 de junho de 2009

Vitor Araujo - Samba e amor

Talento é o que não falta para este jovem pernambucano. Apesar do gosto musical eclético, Vitor Araujo demonstra emoção, maturidade e tranqüilidade em sua apresentação feita no Teatro de Santa Isabel. É um menino prodígio que esbanja um dom natural ao sentar-se e tocar um piano solo. Ele tem personalidade quando toca. Trata-se de uma melodia aos nossos ouvidos quando estamos fartos de sons que se intitulam musicas ou de musicalidade que não nos diz ou traduz absolutamente nada. Aliás, diga-se, o mundo está cheio destas farsas. O que não é o caso deste jovem pianista, por isso, ele merece nossa especial atenção.

18 de junho de 2009

The hangover


No Brasil, The hangover (com tradução literal chamar-se-ia “A ressaca”, diga-se de passagem, mais apropriada) terá como chamariz o título “Se beber não case!”. Trata-se de uma comédia deliciosa que nos surpreende pelo espectador descobrir os fatos ocorridos após uma grande bebedeira entre amigos juntamente com os personagens. A sinopse do filme poderia ser trivial e sem grandes surpresas se não fosse este pequeno detalhe no roteiro, mas que já deu uma grande diferença no que podemos chamar de “não linearidade” da película. Amigos trintões vão para Las Vegas para uma despedida de solteiro de um deles. Até aí, somente a expectativa do que possa vir acontecer. De repente o espectador se depara em acontecimentos incomuns para uma ressaca: uma galinha perambulando pelo quarto do hotel, um tigre no banheiro, o amigo de dente quebrado e um bebê no armário. Quando você acha que tudo que tinha que acontecer, efetivamente, já ocorreu: ledo engano, os fatos cômicos só estão começando. A trupe de amigos descobre que o amigo-noivo desapareceu e o carro deles foi trocado em algum momento da bebedeira por um carro de polícia. Hilário! Sem contar que somos presenteados pela participação pra lá de engraçada de Mike Tyson. Posso garantir que esta película está sendo um sucesso de bilheteria aqui nos EUA. Então, assim que lançarem o filme por aí, não deixem de ir, é entretenimento garantido na certa.

14 de junho de 2009

A fantástica história de Silvio Santos




Você pode até não gostar de Silvio Santos, mas sua trajetória de vida é única, é curiosa. Então, só por isso, já vale à pena ler este livro de Arlindo Silva. A linguagem é bem simples e começa com os primeiros tempos difíceis deste fenômeno da comunicação brasileira na Lapa (RJ) e vai até os agitados dias do “Show do Milhão”. O próprio Silvio conta como ele se tornou camelô, como foi quando serviu o exército, como nasceu o Baú da Felicidade e muitas outras histórias. É relaxante ler este livro, mas sem compromisso de uma obra literária única etc e tal. É biografia pura, gente!

13 de junho de 2009

Ninguém suporta a Glória

E quem foi Darlene Glória? Uma diva, uma atriz, uma louca, uma verdade, uma contradição, uma mulher... Neste vídeo experimental conhecemos um pouco da jovem rádio-atriz, ex-vedete do teatro de revista e atriz. Considerada a Greta Garbo do cinema brasileiro nos anos 70, Darlene abandonou a carreira no auge de sua fama. E, como ela mesma diz “fama não traz nada, ninguém suporta a glória neste mundo”, daí, o título com duplo sentido, mas interessantíssimo deste curta. No cinema, Darlene fez os renomados “Terra em transe” e “Toda nudez será castigada” que faz parte da película. Sua consagração foi no último filme citado, no ano de 1973. Mas Darlene foi mais completa, estreou com o filme “Um ramo para Luíza” e na TV com “Véu de noiva”. Vale à pena ver o curta até os créditos finais.



Darlene ainda participou de outras tantas obras áudios-visuais...
No cinema
Os devassos
Anjos do sol
Até que a vida nos separe
São Paulo, sociedade anônima

Na TV
A diarista (como Madame Gigi)
O Guarani
Carmen
O Bofe
Véu de noiva

12 de junho de 2009

Morango

Papo de namoro é sempre o mesmo, quando um diz ao outro que quer conversar, pode se preparar para alguma bomba, não adianta se estressar. As reclamações são similares, mas as versões e o olhar para elas, neste curta, devem ser diferentes. Filhos, tempo, casos, desculpas, argumentos, gravidez, surpresas, pedidos de separação e casamento traduzem este universo de romance, de juras de amor (eterno ou nem tanto eterno), da vida a dois, do beijar, gostar e de se amar. E ainda se perguntam: “que parte do ‘nosso namoro acabou’ você não entendeu?”. Hoje, em homenagem ao Dia dos Namorados, de presente para os amantes e amados: Morango. Uma película com um diálogo prodigioso e belas atuações de Fernando Alves Pinto e Jerusa Franco. Bem bacana!

Prêmios
Melhor Video de Ficção Universitário no Gramado Cine Vídeo 2005
Melhor Ator no Festival de Cine e Vídeo de Santa Maria 2005
Menção Honrosa no Festival de Cine e Vídeo de Santa Maria 2005
Melhor Ator no NÓIA - Festival Sul-Americano de Cinema e Vídeo Universitários 2005
Melhor Atriz no NÓIA - Festival Sul-Americano de Cinema e Vídeo Universitários 2005
Melhor Curta - Júri Popular no NÓIA - Festival Sul-Americano de Cinema e Vídeo Universitários 2005
Melhor direção no NÓIA - Festival Sul-Americano de Cinema e Vídeo Universitários 2005
Menção Honrosa no Panorama Latino Americano de Cinema Universitário 2004
Melhor Curta no Festival Ibero-Americano 2005
Melhor Curta - Júri Popular no Vide Vídeo 2005

Festivais
CineSul 2005
Curta-se - Festival Luso-Brasileiro de Curtas Metragens de Sergipe 2005
Festival Brasileiro de Cinema Universitário 2005
Festival de Tiradentes 2005
Mostra do Audiovisual Paulista 2004
Festival Guarnicê do Maranhão 2005

11 de junho de 2009

Maré Capoeira

Na pele do personagem João, a gente descobre os encantos da capoeira vista pelos olhos de uma criança. E quando essa arte passa de geração em geração, a percepção fica mais gostosa, pois tem uma unidade em sua história.

“Teve um tempo que a capoeira era proibida”... Isso me fez lembrar que possivelmente até hoje ainda o seja. Acredito que não mais no Brasil, pois o nosso padrão de comportamento já esteja mais aculturado, mas outro dia uma amiga minha que mora em Sarassota (Flórida, EUA) me contou que alguns brasileiros estavam jogando capoeira na praia e a policia de lá, proibiu-os de jogar tal arte, pois poderiam se machucar. Mas como brasileiro dá jeitinho pra tudo, eles se organizaram para praticar o esporte: jogam, mas sempre fica um de butuca para avisar quando a policia chega. Então, quando avisados, todos fogem. Hilário!

Voltando a película, Maré Capoeira mostra também a persistência e o foco de uma criança em busca dos seus objetivos. Tem um pouco de misticismo, história, amor pela arte/luta, jogo de Angola, berimbau e de quebra o amor por uma menina “ousada” chamada Tatuí. Reparem no casamento da letra das músicas com as imagens. É, sem trocadilhos, um jogo perfeito.



10 de junho de 2009

Jullie (Alice)

Com um visual bem moderninho, ela caí como uma luva para o público adolescente. Nada, além disto. Esta capixaba canta pop e rock, mas às vezes as suas forçadas de entonação enjoam, não vou mentir. O clip, que remete à famosa história de Alice no país das maravilhas, está bem adequado ao target e é bem feito/ elaborado.


9 de junho de 2009

A tumba da família de Jesus



O livro fala-nos do que seria uma das maiores descobertas arqueológicas de todos os tempos – a descoberta da tumba da família de Jesus de Nazaré. Foi uma descoberta acidental e como continha inscrições incluindo “Jesus, filho de José”; duas “Marias” e “Judá, filho de Jesus”, a equipe concluiu que era mera coincidência dos fatos. Vinte cinco anos depois, o documentarista Simcha Jacobovici, decidiu investigá-la novamente. Se for ou não a tumba de Jesus, só lendo para saber, mas que, de fato, nos faz questionar, e muito, sobre a história Dele, ah!, isso eu não tenho a menor dúvida. Para quem não está acostumado com este tipo de leitura, “A tumba da família de Jesus”, de Simcha Jacobovici e Charles Pellegrino, é de tirar o fôlego.

8 de junho de 2009

Fred Martins (Domingo e feriado)

Ele foi o vencedor do 9º Prêmio Visa de Música Brasileira e como “segunda-feira não tarda”, não posso ser injusta com este compositor fluminense que carrega em suas letras algo bastante original. A letra é um tanto melancólica, mas nem por isso deixa de ser criativa. Seu ritmo, diria, é bem particular. Como cantor, dá-me a sensação de já ter ouvido a voz dele em algum lugar deste ilimitado Brasil. A melodia é gostosa.


7 de junho de 2009

A casa

“Era uma casa muito engraçada, não tinha teto, não tinha nada” vem aduzida nesta animação de uma forma bem diferente. Pela primeira vez, a famosa letra de Vinicius de Moraes, o espectador é quem trabalha a sua imaginação para construir a tal da casa. É lúdico, mas o gestual do personagem complementa a fantasia. Confira!


6 de junho de 2009

Noivo neurótico, noiva nervosa


Nem todo mundo concorda que Woody Allen é um dos melhores cineastas do mundo. Algumas pessoas não gostam de seus filmes. Pobres coitadas... Elas não têm noção da imensidão de sua obra. Acabei de rever Noivo neurótico, noiva nervosa (em inglês Annie Hall) que nos apresenta um filme bem trabalhado seja em sua diversidade (que vai do besteirol desenfreado à introspecção sombria e séria), seja no tema escolhido (anedonia). As neuroses de Alvy são delineadas desde o inicio do filme quando ele olha diretamente para a câmera e conta piadas que refletem sua vida e filosofia. Alvy é obcecado pela morte e pela culpa. Já Annie tem uma preocupação constante com a sua capacidade intelectual e acha que seu charme é a fragilidade. O desenvolvimento da história flui a partir do lado emocional do protagonista e não com a seqüência de eventos como corriqueiramente encontramos na maioria dos filmes. O final nos surpreende quando o personagem realmente conclui que a tristeza vale à pena.




Parágrafo à parte, anedonia significa a incapacidade de sentir prazer. Aliás, dizem que durante a fase de roteirização e produção da película o título do filme seria Anhedonia, mas os marqueteiros de plantão sinalizaram que talvez não fosse um título capaz de atrair o grande público, foi daí que resolveram mudar.



Os diálogos são perspicazes e vigorosos, tem energia, vida e humor. Se você se atentar melhor ao filme, poderá constatar que os elementos visuais acabam por romper com a ilusão de realidade. Sinceramente, desculpem-me a imposição, mas quem tem anedonia são as pessoas que não gostam de Woody Allen. Noivo neurótico, noiva nervosa ganhou os Oscars de melhor filme, melhor atriz, melhor roteiro e melhor diretor. Além disso, Woody Allen foi indicado para o Oscar de interpretação. Precisa dizer mais?

5 de junho de 2009

Minhocas

As relações e hábitos humanos são explorados neste curta. A gente tem a sensação de que família é família em qualquer lugar até embaixo da terra. Sem trocadilhos, tem uma cena que acho de uma ironia singular quando o filho pergunta para o pai “o que acontece quando a gente morre?”, e o pai responde “a gente é enterrado”. A película “Minhocas” nos pontua que a questão de feio e bonito é apenas uma questão de ponto de vista. Bem contraditório ao que se pensam os humanos, diria. Num simples passeio de pai e filho, o jogo do segredo é apresentado como um ato falho. Maravilhoso!



4 de junho de 2009

Chinatown


Este é o filme preferido dos cinéfilos e não é por acaso, nele, temos: um enredo bastante complicado, um roteiro pra lá de vívido e uma direção talentosíssima de, nada mais, nada menos, Roman Polanski. Aliás, ele também tem uma pequena atuação no filme. Chinatown é um estado de espírito daqueles que achamos que sabemos tudo e no fundo, no fundo não sabemos de nada. Nessa batida é que o esperto detetive particular, Jake Gittes (vivido por Jack Nicholson), é contratado para investigar um suposto caso conjugal, mas acaba se metendo num verdadeiro escândalo político, de corrupção e um segredo de família. O filme representa a futilidade de boas intenções. A história é complexa e não se trata de um filme de detetive convencional, mas o final apesar de não ser feliz, é simples. Enfim, bons ingredientes para marcar um clássico film noir. Apesar da indicação de 11 Oscars, só levaram o de melhor roteiro, uma pena, pois Jack Nicholson estava esplendoroso.

3 de junho de 2009

Juro que vi: Matinta Perera

Apesar de esta animação tratar da história de uma pérola do folclore brasileiro, visualmente, este curta não denuncia algo burlesco. Os traços do desenho são bem originais. O roteiro tem um extremo bom gosto e um fundo musical belíssimo. A idéia de “Juro que vi: Matinta Perera” é uma bruxa que se transforma num pássaro. É uma poesia em forma de desenho. De cara, revemos nossos pré-conceitos de que toda a bruxa é má. Não é. Simbólico e profundo, este curta é lindo demais.




1 de junho de 2009

Capítulo 11

O sol estava se pondo num tom alaranjado ao centro e com contorno avermelhado. Na avenida Dr. Arnaldo logo após as floriculturas e o cemitério, em cima da estação do metro Sumaré dava-se para ver uma paisagem um pouco incomum para a cidade de São Paulo. Somente os escassos e privilegiados pedestres daquela região, teriam esta grata satisfação. Um verdadeiro prazenteiro. Ao fundo, muitas casas e mansões ladeavam a Avenida Sumaré e na periferia destas alguns poucos prédios espalhados instalavam-se aqui e acolá na paisagem inusitada. Era como se anunciasse a necessidade de reafirmar que àquela cidade, de fato, tratava-se da desvairada terra da garoa. Na Sumaré, alguns pedestres faziam suas caminhadas e corridas no canteiro central na tentativa de manter a boa forma física. Sequer ligavam para o barulho que os carros faziam na volta para casa após uma longa e cansativa jornada de trabalho. O trânsito, para variar, estava parado. Kai olhava para Sofia e, antes mesmo de se arrepender de algo, pensava que só o poder de sedução dela poder-lhe-ia convencer a fazer tal atividade física. Ele deveria gostar muito de Sofia ou, no mínimo, acreditar que as loucuras e invenções da amiga valeriam à pena serem vividas. Talvez fosse um amor platônico vindo dos tempos de escola. A alegação dela era de que como precisava de inspiração para o seu trabalho, então, sair da rotina era a melhor pedida.

O instrutor, depois de ajustar a cadeirinha e o mosquetão, pediu que eles colocassem o capacete. Sofia dava risada de Kai, pois disse que conforme a cadeirinha estava sendo ajustadas ao amigo, as protuberâncias de seus órgãos sexuais eram ressaltados. Ela não conseguia parar de rir. Em meios as risadas de Sofia, o instrutor revisou todas as regras de condução e segurança para manuseio dos equipamentos e perguntou secamente: “quem vai primeiro?”. Kaí não era tão valente assim então, um pouco irônico olhou para Sofia e sem ao menos pestanejar mandou um: “ladies first”. Kai, eu tinha certeza de que você ia me dizer isso. Amizade com intimidade é foda! Os dois riram. Sofia fez menção para o instrutor e sob as ordens dele, subiu no parapeito da ponte. Olhou para baixo. Não olhe para baixo, Sofia. Alertou o instrutor. Ela deu risada. Que graça tem a vida se não podemos vivê-la a cada minuto com um fio de adrenalina? O instrutor manteve-se sério, não podia fazer qualquer esporte sem pensar na segurança alheia, tinha o seu nome a preservar. Sofia colocou os dois pés por fora da ponte e começou a descer lentamente. O freio era solto aos poucos. Essa merda não vai cair, vai? O instrutor deu uma risadinha e disse que o equipamento era seguro e de grande resistência. Sofia, então, como se tivesse dentro de um apartamento acenou as mãos despretensiosamente. Sofia se segure. A mão de Kaí suava. Ele seria o próximo a fazer rapel. Em poucos minutos Sofia chegara ao canteiro central da Sumaré e era recolhida por outro especialista no esporte. Deu um grito. Kaí assustou-se com o grito. Olhou para baixo. Não olhe para baixo Kaí, disse o instrutor. Você não ouviu o berro de Sofia? O instrutor deu risada. Sofia está bem, eu te garanto. Kaí desceu. Desceu, mas demorou o triplo de tempo que Sofia para chegar à terra firme. Sofia recebeu o amigo com muitos beijos e abraços. Você conseguiu Kai, não te falei que você ia ser um sucesso? O amigo, enfim, respirou aliviado. Bem, agora, a próxima aventura vai ser saltarmos de pára-quedas. Kaí olhou bem sério para a amiga e sem se dar conta que tinha outras pessoas com eles soltou um “Nem fudendo!” com a maior naturalidade. Olha que fudendo você vai... Todos em volta deram risada dos dois.

Os amigos resolveram ir para o Jacaré Grill a fim de tomarem todas em comemoração daquela aventura. Sofia, em tom levemente pornográfico, anunciou ao amigo que com a fome que estava iria comer toda a linguiça. Entraram no carro e seguiram pela Sumaré, ladearam o cemitério de pinheiros e entraram na Vila Madalena. Sofia, é perfeitamente compreensivo que você esteja com esta fome toda, esse rapel também me deu uma fome danada. Ao chegarem ao local, Kaí acenou para o garçom de sempre que, clandestinamente, conseguiu uma mesa rápida para os assíduos clientes. Assim que se sentaram, uma garota, com o mesmo biótipo de Sofia aproximou-se da mesa e deu um sorriso pra Kaí. Você por aqui? Kaí levantou-se com um sorriso largo e abraçou a moça. Sofia, que estava de costas olhou levemente para o lado a fim de saber de quem se tratava. Kaí apresentou a garota de nome esquisito pra Sofia dizendo-lhe que era uma antiga colega de faculdade. Kaí pegou o telefone dela, prometeu ligar assim que pudesse e se despediu da garota. Sofia passou o resto do jantar quase que calada, um tanto pensativa. Em nenhum momento perguntou algo mais da menina além do que ela já sabia. Kaí, ao contrário da amiga, demonstrava-se bem animadinho. Terminaram o jantar e Kaí levou Sofia em casa. Vai fazer o quê este final de semana, Sofia? Já próximo a porta de casa a amiga disse que talvez saísse com Morrice. Então, vamos sair de casalzinho?! Sofia deu uma risadinha sem graça. Pode ser Kaí, vamos falar mais pra frente. Fez um gesto se despedindo do amigo e fechou a porta de casa.