15 de agosto de 2019

Neste Mundo Louco, Nesta Noite Brilhante

Foto: Fabio Audi

O Grupo 3 de Teatro estreia o sexto espetáculo de sua trajetória: "Neste Mundo Louco, Nesta Noite Brilhante", novo texto da conceituada dramaturga Silvia Gomez. O espetáculo tem direção de Gabriel Fontes Paiva e fica em cartaz no Sesc Consolação de 23 de agosto a 6 de outubro.

Na trama, enquanto aviões de várias partes do mundo decolam e aterrissam, a vigia do KM 23 de uma rodovia abandonada encontra jogada no asfalto uma garota que delira após ser violentada naquela noite estrelada. 
A cada dez minutos uma mulher é vítima de estupro no Brasil. “Terminei este texto no final do ano passado, mas ele começou a se materializar mesmo em 2015, dia após dia, diante do aumento dos casos de estupro e violência contra a mulher no Brasil, histórias que temos visto tomar as notícias. Acho que a peça é um desabafo, alegoria, uma resposta artística a essa realidade, buscando falar dela em outra camada: escrevo sobre um encontro entre duas mulheres num KM abandonado do Brasil. Uma delas acaba de ser violentada e, no delírio da violência, fala. Busco no delírio um diálogo com a realidade impossível de alcançar. De que sintoma complexo do nosso tempo e do nosso país as estatísticas falam? Não tenho respostas exatas, mas muita perplexidade e perguntas que procuro elaborar na cena absurda. Escrevi pensando no Grupo 3, pois há muito tempo queria criar algo só para eles, que são minha turma de Belo Horizonte, MG, com a qual comecei e troco há mais de 20 anos”, revela a autora Silvia Gomez. 
Com linguagem não realista e poética e humor ácido, o texto discute as relações de dominação e resistência, de conflito e poder, praticadas pela humanidade desde tempos imemoriais. É uma obra ao mesmo tempo política e psicológica, local e universal, escrita por uma das principais dramaturgas brasileiras atuais, que já teve seus trabalhos publicados em sete idiomas.
“Em geral, encontro personagens em situações de limite pessoal, emocional, às vezes físico. Nesse lugar, onde as convenções parecem de repente suspensas, uma espécie de lucidez-delirante – assim mesmo, contraditória – toma corpo nas relações e na fala perplexa. Aquilo que não gostamos de dizer vem à tona, as palavras ficam perigosas e ao mesmo tempo quase engraçadas – há uma espécie de humor instável nascido do impasse”, acrescenta a dramaturga.
Em cena, além das duas mulheres interpretadas por Yara de Novaes e Débora Falabella, há a banda Boliviana Las Majas, que toca ao vivo a trilha composta por Lucas Santtana dialogando com as atrizes. O grupo musical é formado por Mayarí Romero, Lucia Dalence, Lucia Camacho e Isis Alvarado e entrou para o espetáculo quando o Grupo 3 fez uma leitura encenada da peça em Santa Cruz de La Sierra, Bolívia, e convidou a banda para participar. A iluminação de André Prado e Gabriel Paiva também é operada em cena e participa desse diálogo.