10 de maio de 2019

A Vida Útil de Todas as Coisas

Foto: Heloísa Bortz

Figura de destaque na cena teatral paulista atual, o diretor e dramaturgo Kiko Rieser estreia a distopia "A Vida Útil de Todas as Coisas" em 23 de maio na Oficina Cultural Oswald de Andrade, onde segue em cartaz até 15 de junho. Em seguida, o espetáculo tem uma curta temporada no Teatro do Núcleo Experimental, entre os dias 21 de junho e 21 de julho. O elenco é formado por Eduardo Semerjian, João Bourbonnais, Louise Helène e Luciana Ramanzini.
Em uma ficção que pode ser lida como um futuro distópico ou um realismo fantástico situado nos dias de hoje, o pai de uma família comum constata que seu próprio pai está com problemas de memória, e procura uma assistência técnica para tratá-lo. Nesse lugar, o idoso recebe o diagnóstico de que não há mais conserto ou troca para seu cérebro, portanto, seu fim está próximo. A indústria de órgãos biônicos – sempre programados para durarem pouco e serem substituídos por modelos mais novos – ainda não conseguiu criar um cérebro artificial, único órgão impossível de trocar.
Como alternativa ao problema, a loja oferece a substituição do idoso por uma máquina com aparência humana. Indignado, o protagonista rejeita a possibilidade e passa a lutar contra o comércio de substituição de pessoas por máquinas, vendo nisso um objetivo para sua vida, até então banal e rotineira. No entanto, nem sua própria filha nem mesmo seu pai aderem a essa campanha, e ele percebe que a sociedade não está interessada nos valores que ele tenta defender.
A encenação parte dessa situação para propor uma discussão sobre os limites entre o público e o privado, um tema cada vez mais atual. Em um tempo em que não há individualidades e identidades, apenas pessoas úteis a tais ou quais propósitos socialmente designados, não pode haver respeito à privacidade, já que tudo e todos devem servir ao sistema do qual fazem parte.