22 de março de 2019

O Aniversário de Jean Lucca

Foto: Ale Virgílio e Rafael Cusato

O compositor e dramaturgo Dan Nakagawa, que figura entre os novos diretores da cena teatral paulistana atual, estreia seu terceiro espetáculo, "O Aniversário de Jean Lucca", definido por ele mesmo como um “quase” musical do Teatro do Absurdo. A montagem, que teve sua primeira leitura dramática em Estocolmo, na Suécia, em dezembro de 2018, estreia no dia 3 de abril, no Teatro Sérgio Cardoso, onde segue em cartaz até 2 de maio.
Com forte influência da dramaturgia de Samuel Beckett, Matéi Visniec e Eugène Ionesco, a peça narra os preparativos da festa organizada por uma babá para comemorar o aniversário do menino Jean Lucca, filho único de um casal que mora em um luxuoso condomínio nos arredores de São Paulo. Essa criança nunca é vista na peça e sobre ela pouco se sabe, nem mesmo a sua idade ou aparência física. Assim a presença dele se faz pela sua constante ausência.
O enredo se passa durante o fragmento de tempo correspondente aos preparativos da festa até seu início. Nesse ínterim, a Babá e todas as pessoas que vão chegando na casa-bolha dessa família se mostram uma ameaça na vida desse casal, gerando ora uma paranoia excessiva, ora uma profunda apatia. A encenação fala sobre os muros visíveis e invisíveis, físicos e subjetivos que nos cercam, gerando incômodo frente a marginalização, segregação, apatia social, indiferença e a paranoia.    
O texto nasce em consonância com estudos do psicanalista e professor paulistano Christian Dunker sobre o conceito de “Cultura da Indiferença”. Segundo o estudioso, tal cultura se desenvolve no interior de uma sociedade normatizante, branca e heteronormativa que nega, por meio da indiferença, as diversidades individuais, erguendo barreiras para anular essas subjetividades. Assim, transformamos o nosso entorno em uma bolha de iguais e, portanto, narcisista, onde tudo que se quer ver em um mundo previsível é a si mesmo e não o outro.