Justiça se faça, e você até pode condená-la pela escolha que ela teve, mas Gabriela Leite foi de uma coragem ímpar ao assumir que queria ser puta (e do baixo meretriz) frente a uma sociedade conservadora. A autora de Filha, Mãe, Avó e Puta descreve a zona do baixo meretriz como se fosse uma festa de 15 anos ou ainda um casamento na Igreja. Sim, ela nos poupa os grandes detalhes sórdidos desta vida e, se você for uma pessoa facilmente influenciável é capaz de acreditar que ser prostituta é a melhor coisa do mundo e se tornar uma, mesmo porque o ganho é garantido. Numa deliciosa leitura (eu li o livro em três noites), ela nos conta suas experiências de vida de forma envolvente. Uma vida diversa com preconceitos de sobra e enormes razões pela opção de trabalho (mesmo que não seja literal e explícita o suficiente para dizer claramente o porquê ela resolveu encarar tal escolha). Uma mulher de fala direta que não tem medo nem vergonha de falar. Gabriela, socióloga de formação e puta por opção, fez uma revolução em sua vida pessoal, assumindo na prática e sem constrangimento o que discutia e sonhava com os amigos intelectuais na faculdade e em mesas de bar. Um maravilhoso livro, sem sombra de dúvida.