Fernando de Morais conseguiu se superar em “O Mago”. Com um excelente trabalho de pesquisa, ele envolve o leitor até a última página. É bom que se diga que são 630 páginas. É claro que na contracapa do livro, a editora já avisa que se trata de “uma história que nem os roteiristas mais criativos seriam capazes de sonhar”. E, de fato, você nem precisa chegar ao meio do livro para já querer sair criando o roteiro deste que seria um maravilhoso filme. E a história, de fato surpreende. O Mago é eletrizante, claro o suficiente para entender a grandeza do personagem e recheado de detalhes de vida, sejam eles imparciais ou nem tanto imparciais assim. É prudente deixar claro que Fernando revolucionou a biografia no Brasil. Escreveu entre eles “A Ilha”, “Olga” e “Chatô, o rei do Brasil”. E “Olga” transformou-se no filme do diretor Jayme Monjardim. Para fazer jus ao trabalho do escritor, além do Brasil, “O Mago” está sendo publicado em mais trinta países.
O personagem? Um menino que nasceu morto, mas transformou-se num escritor universal. Paulo Coelho. Por toda a minha adolescência ouvi falar que Paulo Coelho tinha sido um drogado, um quase louco antes de fazer o sucesso que fez com os seus livros. Li, aos meus quinze anos, os famosos livros “O diário de um mago”, “O alquimista” e “Brida”. Parei de ler, pois senti a necessidade de me reciclar e busca novos desafios nas minhas leituras. Fernando Morais mostra-nos no livro que loucos mesmos foram os pais de Coelho ao interná-lo em um hospício por que o filho fugiu do comportamento social padrão da época. Pura insanidade, diria. Mas o livro nos desvenda sempre algo a mais. Apresenta-nos Paulo Coelho viajando e, com duplo sentido, as viagens mentais dele sobre os mais diversos assuntos, bem como com as drogas. Fala-nos de um crítico perfeito e voraz devorador de livros, mas também nos põe diante de um maconheiro com suas contradições sobre abortar ou não abortar. Coelho já negou Deus e quase foi para o lado do Diabo, ou pelo menos, o conheceu de perto. Identificado por subversivo pelo Dops, o escritor passou por poucas e boas. Quando trabalhava na indústria fonográfica, admitiu sua arrogância e, do sucesso à decadência no mundo do showbiz, acabou-se por se envolver com vampirismo. No ziguezaguear da vida, desanimou-se e animou-se por diversas vezes no objetivo de ser um escritor famoso. Foi bígamo e declarou certa feita na revista Playboy tal bigamia, mas, sob uma condição: aceitou a reciprocidade de tais atos, preferiu não divulgá-la, como todo homem machista. Por tudo que passou nunca se deixou esmorecer na sua busca de ser um escritor famoso. Foi nesta batida que se consagrou nos EUA e França, deixando de ser “apenas uma excentricidade latino-americana e virou um fenômeno literário”. Enxurrada de criticas sempre o perseguiu: dos jornalistas aos intelectuais. E como disse Jorge Amado, “a única coisa que leva a intelectualidade brasileira a atacar Paulo Coelho é o sucesso que ele faz”. Virou tese de mestrado e doutorado. O Mago é plural como a vida e singular como o personagem. E, com certeza, daria um belo filme!
Comentários à parte, um ponto que gostaria de destacar é a coragem de um escritor da fama internacional de Paulo Coelho, deixar-se mostrar por inteiro: com qualidades e defeitos, mas principalmente como ser humano. Só entenderá o que digo quem realmente leu (ou ler) o livro, pois não é qualquer celebridade que, em vida, se expõe e deixa-se transparecer desta forma. Ainda mais ele que já recebeu e foi alvo de critica profissional, passará, possivelmente para muitos, pelas criticas pessoais. Isso é, no mínimo, corajoso! Então, em minha modéstia opinião, você não precisa gostar dos livros ou da leitura de Paulo Coelho para ler este livro, pois “O Mago” é uma visão à parte. A leitura certamente vale à pena!
Para quem quiser saber mais sobre o personagem: http://www.paulocoelho.com (Website), http://www.paulocoelhoblog.com e http://www.myspace.com/paulocoelho (Blogs).