Retocou a maquilagem e foi em busca do brinco de ouro, não o via a tanto tempo que achou que tivesse perdido, mas, quando Sofia abriu a caixinha feita de capim dourado lá estava ele. O brinco imitava um dedo amassado. Lindo! Ao pegá-lo, seus dedos foram de encontro a chave com laço vermelho. Caramba, já se passaram quase quatro meses do acontecido. Pensou, mas não quis ir à fundo no pensamento. Largou a chave do apartamento de Morrice no mesmo lugar e apenas fez as contas de que também tinham exatos quatro meses que evitava encontrar com Kai e Manu. Evitava-os com as desculpas mais esfarrapadas do mundo. Algumas sem pé nem cabeça, mas os amigos fingiam acreditar. Sabiam que ela precisava daquele tempo só. No tempo de reclusão, Sofia só fazia andar com Brasileiro pela vizinhança e trababalhar. Não ia a um shopping, muito menos a um restaurante, festas ou teatro. Estava levando uma vida de “come e dorme”. Como toda mulher, tinha medo de engordar, mas não engordava de ruim que era, todos diziam. Sofia lembrou: estava atrasada.
No restaurante, Kai e Manu já esperavam por ela com algumas doses de caipirinha na cabeça. O trato era: só vocês no encontro. Nem Heitor e muito menos Keka deveriam estar presentes. Ainda estou me refazendo. Kai e Manu toparam. Fazer o quê? Os amigos receberam-na com carinho. Você está linda Sofia! Confidenciou Kai. A filha da puta nem engordar não engorda.... complementou Manu. E, em tom de brincadeira, Sofia alfinetou: Bem, se eu contar que até o pilates parei de fazer, vocês acreditam? Os três almoçaram e, como nos velhos tempo deram muita risada. Agora estou nova, refeita, vou partir para outra. Manu foi logo perguntando se tinha alguém na jogada. Não, não tinha. Vou passar três meses fora do Brasil. Anúnciou sem meias palavras.
Decidi que vou para Nova Iorque. Vou aperfeiçoar meu inglês e de quebra reciclar meus conhecimentos na moda. Isso é uma segunda fuga, Sofia? Kai foi direto ao ponto. Não. Não irei mais fugir de nada meu amigo. O garçom, então, se aproximou e entregou um guardanapo para Sofia. Ela abriu, leu e sorriu. Como nos velhos tempos... disse Manu. Sofia sorriu e confirmou: “verdade. Um nome e um telefone. Até que ainda dou para o gasto”. A risada de todos veio à tona.
Sofia se levantou para ir ao banheiro. Ao sair, lavou as mãos na pia conjugada entre os banheiros masculino e feminino, tirou o guardanapo do bolso e jogou na lata de lixo. Um rapaz alto e descolado, expondo seus bíceps e tríceps com a camiseta colada no corpo se aproximou dela e sem nenhum rodeios disse: “depois deste gesto, eu posso com certeza perder as esperanças de ter uma chance contigo?”. Sofia se virou e deu de cara com Marcos, filho da sua vizinha Yara. Gagejou um pouco para falar o nome do rapaz. Puta que pariu, este menino tá cada vez mais gato. Pensou, mas não disse nada. Mas, enfim, acabou por sair algo do tipo “oi Ma-Marcos”. Saiu aos trancos e barrancos, mas de forma doce. Os dois se entreolharam e riram. Fudeu! Pensou Sofia sem nenhum rodeio.
Marcos engatou um papo meio infantil de que já estava com dezoito anos e que tinha acabado de entrar na universidade de engenharia etc e tal. Mas Sofia só conseguia olhar para o corpo do rapaz e pensar consigo mesma que ele já não era mais de menor. Então, aquele era seu telefone? Perguntou Sofia apontando para a lata de lixo. Marcos balançou a cabeça positivamente enquanto caminhavam em direção ao bar do restaurante. Então Sofia, sem o menor pudor, pegou uma caneta no balcão, colocou seu pé sob a base da base de uma das cadeiras do bar, entregou a caneta para Marcos, suspendeu um pouco sua saia e disse: “coloca seu telefone de novo aqui. Assim, tem menos chances dele se perder”. Marcos ficou atônito sem reação alguma olhando para Sofia. Vai coloca! Incentivou ela. Ele, meio sem graça, anotou na perna de Sofia o telefone e continuou sem dizer nada. Eu te ligo, pode deixar! Ela voltou à mesa enquanto Marcos ainda olhava para ela sem nenhum expressão, ou, com a expressão mais boba que um homem possa ter.