1 de setembro de 2009

Capítulo 16

Pegou o sapato de salto alto colocou, olhou-se no espelho. Achou bonita. Decidiu ir daquele jeito mesmo. Um vestido básico da moda, um casaco e um sapato diferente. Tudo perfeito, disse. Pegou a bolsa e avisou a Mahya que não iria dar tempo de tomar café. Mahya tentou gritar pela filha para que ela levasse algo e fosse comendo no caminho, mas Sofia já estava dentro do carro. Cortou ruas, fez caminho diferentes, avançou alguns sinais e quando parou o carro na garagem do edifício em que tinha a reunião, olhou o relógio. Pontual! Os manobristas disputavam, entre eles, para ver quem abria a porta do seu carro, por puro prazer de sentir o perfume doce daquela bela longilínea. Naquele dia, especialmente, ela estava mais do que charmosa. O perfume de sempre: animale. O trajeto do carro ao elevador mais parecia uma passarela de moda que encantavam a todos que a viam desfilar. A cena era de completo êxtase. Os manobristas se entreolhavam. Sofia se sentia.

A porta do elevador se abriu. Entrou. E como algo imprevisto, um flato veio à tona. Pensou de imediato na recepcionista do seu cliente que outro dia contava nos corredores da empresa aos demais colegas que ao descer o elevador para levar o malote, um homem entrou, soltou uma flatulência e ainda pediu desculpas. A atendente contava indignada para os demais não somente sobre a falta de educação do moço, bem como de ele ter assumido na maior cara de pau tal ato e, pior, de ela ter que agüentar aquele cheiro maldito pelo menos onze andares. Na época, alguns colegas da moça riam da situação, outros repulsavam-na. Sofia que aguardava sentada na recepção ria disfarçadamente de toda aquela história.

Ela pensou em toda aquela situação e, por segundos, rezou para que o elevador não parasse no andar térreo. E se alguém entrasse? Era só o que faltava... Olhou o painel demonstrativo de andares. E, como se os pensamentos atraíssem tal situação, o visor indicava que o elevador iria parar no térreo. O desespero de Sofia foi tão grande que a jovem começou a abanar o ar do ambiente com a mão para que aquele odor se dissipasse. Inexperiente no assunto fez, exatamente, o oposto do que deveria ter sido feito. O fedor espalhou-se e tomou conta do ambiente. A porta se abriu. Não dava mais tempo. Fudeu! Pensou. Entrou um gordinho e logo depois um casal... Sofia se manteve inalterável, como se nada tivesse acontecido. Olhou os andares que eles apertaram no painel. A porta se fechou. Ela era a última a descer. O elevador subia.

O gordinho cafungou como se já tivesse sentido o odor. Ele olhou para Sofia e para o casal. O gordinho voltou a cafungar. Que situação! Ela pensava no que tivera comido no dia anterior. O gordinho começou a encará-la. Sofia desviou o olhar e fixou-se no painel. Lembrou: feijão e repolho. Pensou: cebola também dá gases, precisava parar de comer este tipo de coisa. O elevador continuava subindo. Sofia olhava o visor, contava agoniadamente os andares. Parecia uma eternidade. Seu andar era o último, lembrou. O gordinho cafungou mais uma vez. O fedor era realmente terrível. Ela intacta. O casal se entreolhava. O homem ria, num riso murcho, para a mulher como se já tivesse sacado a situação. O elevador parou. A porta abriu. O gordinho saiu. A porta se fechou. O elevador seguia seu rumo. O rapaz olhou para a moça, sorriu, não se conteve e disse: “É... O gordinho estava podre!”.

Sofia prendeu o sorriso sabe-se lá Deus como. Fingiu que não ouviu o comentário. Coitado do gordo, levou fama sem proveito. Pensou. Cogitou a questão de, nestas situações, em sendo a pessoa gorda, criança ou velha, a fama desse tipo de ato sempre caberia a eles e a ninguém mais. A porta abriu novamente. O casal saiu despedindo-se da elegante Sofia. A porta se fechou e ela quase se matou de tanto rir com toda aquela situação. Por alguns instantes ficou preocupada de soltar um outro deste no meio da reunião com o seu cliente. Resolveu relaxar, pra tudo se tem uma solução. A porta do elevador, enfim, se abriu e o cliente de Sofia já aguardava-a com um sorriso de cabo a rabo. Sofia, você sempre pontual, hein!