1 de junho de 2009

Capítulo 11

O sol estava se pondo num tom alaranjado ao centro e com contorno avermelhado. Na avenida Dr. Arnaldo logo após as floriculturas e o cemitério, em cima da estação do metro Sumaré dava-se para ver uma paisagem um pouco incomum para a cidade de São Paulo. Somente os escassos e privilegiados pedestres daquela região, teriam esta grata satisfação. Um verdadeiro prazenteiro. Ao fundo, muitas casas e mansões ladeavam a Avenida Sumaré e na periferia destas alguns poucos prédios espalhados instalavam-se aqui e acolá na paisagem inusitada. Era como se anunciasse a necessidade de reafirmar que àquela cidade, de fato, tratava-se da desvairada terra da garoa. Na Sumaré, alguns pedestres faziam suas caminhadas e corridas no canteiro central na tentativa de manter a boa forma física. Sequer ligavam para o barulho que os carros faziam na volta para casa após uma longa e cansativa jornada de trabalho. O trânsito, para variar, estava parado. Kai olhava para Sofia e, antes mesmo de se arrepender de algo, pensava que só o poder de sedução dela poder-lhe-ia convencer a fazer tal atividade física. Ele deveria gostar muito de Sofia ou, no mínimo, acreditar que as loucuras e invenções da amiga valeriam à pena serem vividas. Talvez fosse um amor platônico vindo dos tempos de escola. A alegação dela era de que como precisava de inspiração para o seu trabalho, então, sair da rotina era a melhor pedida.

O instrutor, depois de ajustar a cadeirinha e o mosquetão, pediu que eles colocassem o capacete. Sofia dava risada de Kai, pois disse que conforme a cadeirinha estava sendo ajustadas ao amigo, as protuberâncias de seus órgãos sexuais eram ressaltados. Ela não conseguia parar de rir. Em meios as risadas de Sofia, o instrutor revisou todas as regras de condução e segurança para manuseio dos equipamentos e perguntou secamente: “quem vai primeiro?”. Kaí não era tão valente assim então, um pouco irônico olhou para Sofia e sem ao menos pestanejar mandou um: “ladies first”. Kai, eu tinha certeza de que você ia me dizer isso. Amizade com intimidade é foda! Os dois riram. Sofia fez menção para o instrutor e sob as ordens dele, subiu no parapeito da ponte. Olhou para baixo. Não olhe para baixo, Sofia. Alertou o instrutor. Ela deu risada. Que graça tem a vida se não podemos vivê-la a cada minuto com um fio de adrenalina? O instrutor manteve-se sério, não podia fazer qualquer esporte sem pensar na segurança alheia, tinha o seu nome a preservar. Sofia colocou os dois pés por fora da ponte e começou a descer lentamente. O freio era solto aos poucos. Essa merda não vai cair, vai? O instrutor deu uma risadinha e disse que o equipamento era seguro e de grande resistência. Sofia, então, como se tivesse dentro de um apartamento acenou as mãos despretensiosamente. Sofia se segure. A mão de Kaí suava. Ele seria o próximo a fazer rapel. Em poucos minutos Sofia chegara ao canteiro central da Sumaré e era recolhida por outro especialista no esporte. Deu um grito. Kaí assustou-se com o grito. Olhou para baixo. Não olhe para baixo Kaí, disse o instrutor. Você não ouviu o berro de Sofia? O instrutor deu risada. Sofia está bem, eu te garanto. Kaí desceu. Desceu, mas demorou o triplo de tempo que Sofia para chegar à terra firme. Sofia recebeu o amigo com muitos beijos e abraços. Você conseguiu Kai, não te falei que você ia ser um sucesso? O amigo, enfim, respirou aliviado. Bem, agora, a próxima aventura vai ser saltarmos de pára-quedas. Kaí olhou bem sério para a amiga e sem se dar conta que tinha outras pessoas com eles soltou um “Nem fudendo!” com a maior naturalidade. Olha que fudendo você vai... Todos em volta deram risada dos dois.

Os amigos resolveram ir para o Jacaré Grill a fim de tomarem todas em comemoração daquela aventura. Sofia, em tom levemente pornográfico, anunciou ao amigo que com a fome que estava iria comer toda a linguiça. Entraram no carro e seguiram pela Sumaré, ladearam o cemitério de pinheiros e entraram na Vila Madalena. Sofia, é perfeitamente compreensivo que você esteja com esta fome toda, esse rapel também me deu uma fome danada. Ao chegarem ao local, Kaí acenou para o garçom de sempre que, clandestinamente, conseguiu uma mesa rápida para os assíduos clientes. Assim que se sentaram, uma garota, com o mesmo biótipo de Sofia aproximou-se da mesa e deu um sorriso pra Kaí. Você por aqui? Kaí levantou-se com um sorriso largo e abraçou a moça. Sofia, que estava de costas olhou levemente para o lado a fim de saber de quem se tratava. Kaí apresentou a garota de nome esquisito pra Sofia dizendo-lhe que era uma antiga colega de faculdade. Kaí pegou o telefone dela, prometeu ligar assim que pudesse e se despediu da garota. Sofia passou o resto do jantar quase que calada, um tanto pensativa. Em nenhum momento perguntou algo mais da menina além do que ela já sabia. Kaí, ao contrário da amiga, demonstrava-se bem animadinho. Terminaram o jantar e Kaí levou Sofia em casa. Vai fazer o quê este final de semana, Sofia? Já próximo a porta de casa a amiga disse que talvez saísse com Morrice. Então, vamos sair de casalzinho?! Sofia deu uma risadinha sem graça. Pode ser Kaí, vamos falar mais pra frente. Fez um gesto se despedindo do amigo e fechou a porta de casa.