José batia ritmicamente a ponta do lápis na mesa sem ao menos se dá conta de que estava irritando Laura. Laura delicadamente colocou a mão dela sob a mão dele e José, sem titubear, foi logo pedindo desculpas. Porque Sofia está demorando tanto, Laura? Realmente não era o feitio de Sofia se atrasar aos compromissos com José, mas daquela vez não dependia apenas dela. “Deve estar na entrevista do consulado americano”. José olhou para Laura e ficou pensando que tipo de jornal, revista ou TV estava entrevistando a amiga estilista. Depois de muito tempo elaborando o pensamento, ele mandou um “É da Globo ou SBT?” Laura gargalhou. De onde você tirou isso moleque?
Sofia abriu a porta e, então, foi pendindo desculpas para o garoto pelo seu atraso e quis saber o motivo de tamanha gargalhada de Laura. Depois de saber o que era o consulado americano e o motivo da entrevista de Sofia por lá, José começou a fazer uma batelada de perguntas para a jovem na tentativa de saciar sua curiosidade...Mas onde fica os Estados Unidos? É muito distante daqui? E porque você precisa ir pra lá? Mas aqui não tem este curso de moda? Você vai ficar lá muito tempo? Nossa, é muito tempo, eu vou poder ir te visitar? Eles falam português? Não?! E você fala inglês também? E como é o inglês? Ah! Então são aqueles nomes esquisitos que a gente vê em algumas propagandas de rua, não é? Eu acho que eu também sei falar inglês, Sofia, você quer ver? “Yééés... Noou”. Sofia podia passar horas naquela conversa com José, mas foram interrompidos por um grito de quase horror que vinha da parte de cima do escritório. Mas que diabos é isso? O grito era continuo. O grito de Carlinhos faziam os três pelo olhar se perguntarem o que estaria acontecendo com o arquiteto.
Laura pensou que pudesse ter sido um ladrão, mas não ouviram tiros e nem ninguém correndo. José ficou sem entender porque um homem daquele tamanhão gritara, mas depois desistiu do pensamento, pois no seu conhecimento sabia que Carlinhos por livre arbítrio não era homem. Sofia foi a única que não pensou nada, apenas num rompante subiu as escadas correndo para ver o que acontecia com o amigo. Assustados, José e Laura seguiram Sofia para também ver o que tinha acontecido e, ao chegar na sala do sócio, os três encontraram uma cena hilária. Carlinhos em cima da mesa olhando aterrorizado para uma pequena largatixa no chão. A largatixa encarava Carlinhos e às vezes balançava a cabeça, talvez filosofando de toda a situação em que se encontrava ou, talvez prestando atenção para ver qual seria a melhor hora de correr de toda aquela cena em que foi se meter. Mas quando fazia o mínimo de movimento seja com a cabeça ou com o rabo ouvia-se gritos de horror aterrorizado do amigo. Ele realmente estava aterrorizado. Na visão de Carlinhos, a largatixa não era uma largatixa, mas sim um enorme crocodilo. O nojo daquele bicho gosmento e mole com olhos pretos e ameaçadores não lhe deixavam raciocinar. Sofia começou a gargalhar, mas Carlinhos com o seu pavor tratou de repreendê-la e pediu que alguém tirasse aquele monstro dali.
José se sentindo um super-homem partiu para cima da largatixa e pegou num rompante ela pelo rabo. Ninguém acreditou. Larga isso José, tá louco?! Isso é nojento... Avisava Sofia surpresa pela atitude do moleque. Laura correu para o banheiro para pegar um papel higiênico. Para que você quer isso Laura? José já pegou o bicho com a mão. Enquanto as duas discutiam o destino da largatixa, José esperava a decisão segurando a mesma e Carlinhos gritava para tirarem ela de perto dele. Já que ninguém chegava a uma conclusão, José abriu a janela e jogou a bicha pelo lado de fora. A largatixa caiu no quintal em cima da mesa e depois saiu correndo seguindo o seu próprio destino. Mais de uma semana depois de cada um seguir seu rumo na vida, Carlinhos ainda não frequentava o quintal com medo que a ameaça daquele bichano voltasse a amedontrá-lo. Vai saber...