O livro "Declínio de um homem", de Osamu Dazai é denso, detalhista e apresenta um personagem riquíssimo sob o ponto de vista comportamental. O ritmo da leitura, por vezes, se arrasta, mas nada tira o brilho da obra. A curta passagem pela vida do escritor japonês Osamu Dazai — suicidou-se aos 38 anos de idade — não o impediu de se transformar num autor bastante popular. A obra sintetiza em cenas e passagens notoriamente biográficas muitas das angústias que tanto alimentavam a personalidade autodestrutiva do autor, a saber: a dificuldade de entendimento com seus familiares, sua antissociabilidade niilista, seu patológico apego ao álcool — vício do qual nunca conseguiu se livrar —, sua autoestima inexistente, enfim, sua evidente sensação de deslocamento em relação ao mundo — como se tivesse sido enviado à existência por mero descuido. O êxito editorial de "Declínio de um homem" talvez possa ser explicado pela maneira catártica com que Dazai escreve: diferentemente de seus pares mais tradicionais da literatura japonesa, em geral caracterizados pela sutileza e por tons etéreos. O autor, simplesmente, não se importa em trazer à tona fantasmas interiores obscuros. Sua escrita simplesmente angustia. e, talvez, por isso mesmo, seja tão raro.