Para quem gosta do universo de reis e seus conselheiros, o livro "O Conde Lucanor", de Don Juan Manuel, é um prato cheio. A obra traz historietas de diversas conversas entre o Conde Lucanor e seu conselheiro Patrônio. Cada história traz implícito o viés da moral popular, beirando o didatismo. Há riqueza em tantas narrativas, são pouco mais de cinquenta histórias no total. Contudo, a estrutura das tramas cansa, pois trata-se da mesma fórmula narrativa: uma pergunta do Conde, o contar de alguma história do reino pelo seu conselheiro, o conselho em si e a moral da história, escrita em versos. Da metade pro fim, provavelmente o leitor já se cansou da fórmula. Príncipe e guerreiro, Don Juan Manuel nasceu em 1282 e morreu em Múrcia, em 1348. Era sobrinho de Afonso X, o Sábio, foi regente do reino depois da morte de Fernando IV, e muito mais, conforme se poderá ler na sua biografia. O Conde de Lucanor é um livro didáctico, conforme os princípios morais ilustrados por Patrônio, com numerosos e belos exemplos ao Conde Lucanor, seu senhor. Inspiram-se no bom senso consuetudinário, em histórias antigas árabes e romanas e nos contos das Mil e Uma Noites. A influência deste livro na literatura mundial é impressionante desde, por exemplo, o Livro da Montaria, de D. João I, a Jorge Luis Borges, que tanto o apreciava e que chegou a parafrasear algumas das suas histórias, como pode comprovar-se no conto "O Bruxo Preterido", de História Universal da Infâmia.