Foto: Phillipe Machado
Hoje estreia o espetáculo "A voz que resta" no Sesc Ipiranga. Quarenta minutos antes de abandonar para sempre o apartamento que lhe serviu de garçonnière durante anos na boca-do‐lixo de São Paulo, Paulo (personagem de Gustavo Machado), copidesque e escritor frustrado, decide deixar uma última e trágica mensagem ao grande amor da sua vida, Marina, sua vizinha, que mora alguns andares abaixo. Escrito e dirigido pelo russo Vadim Nikitin, o espetáculo inicia sua temporada hoje. Uma das inspirações de Vadim foram os monólogos “A voz humana” (La Voix humaine, 1930), do francês Jean Cocteau, e “A última gravação de Krapp” (Krapp’s last tape, 1958), do irlandês Samuel Beckett. Desses textos vieram provocações sobre a dor causada pelo término de um caso amoroso (Cocteau) e 'o fim de uma vida que podia ter sido e que não foi’, verso bem beckettiano, que na verdade é um clássico de Manuel Bandeira. A trama é costurada pela solidão do personagem Paulo que depois de esvaziar a sangue-frio o apartamento, agora, com o dia raiando, uma garrafa de conhaque na mão e em petição de miséria, Paulo volta ao apartamento pela última vez para registrar sua partida. Em cena, Paulo tenta tecer apaixonadamente seu luto amoroso. A vizinha de cima, uma senhora professora de piano, compõe uma trilha incidental feita de acordes soltos e exercícios melódicos. Eis, portanto, A voz que resta , uma obsoleta fita cassete em que Paulo, escrivão-escravo, cansado de escrever, faz questão de declarar com a voz à Marina o indeclarável, misto de paixão impossível, insuportável e ainda assim incondicional. Misturando poesia e erotismo, o texto revela nua e cruamente as intimidades de um casal de amantes cuja paixão os levou à beira de um abismo ao mesmo tempo ridículo e sublime. O espetáculo acontece sexta, às 21h30; sábado, às 19h30 e domingo, às 18h30 no Auditório do Sesc Ipiranga, que fica na Rua Bom Pastor, 822 – Ipiranga.